Não, meu pai não sente inveja de minha pessoa. Eu senti da dele, por um bom tempo. Mas só agora me dou conta.
Meu pai nunca foi lá uma pessoa muito fácil. Como tantos outros pais da Geração Baby Boomer, foi mais autoritário e quase nada sensível. Hoje já virou uma “moça”. No alto de seus oitenta anos, ao menos comigo, deixou a agressividade de lado. Bom, nem sempre…
Se por alguns anos lamentei seu jeito de ser, hoje comemoro a oportunidade de seu convívio, que me fez tão forte quanto ele. Com maturidade, fui capaz de moderar esta característica em mim. Mas outra qualidade de meu pai me assombrou por um bom tempo: a sua capacidade de empreendedorismo.
Transportadora, restaurante, venda de frutas e legumes a atacado, investimento em carvão e outros negócios foram bem sucedidos em suas mãos. O problema é quando parava nas mãos de outros.
Meu pai sempre me dizia que se eu quisesse me dar bem na vida, teria que ter o meu próprio negócio. No auge da adolescência e da revolta, eu não aceitava suas palavras, que chegavam de forma autoritária e mais ríspida. Se o jeitinho de falar pudesse ter sido no diminutivo e com paciência, talvez tivesse sido diferente.
O fato é que eu não tinha a mesma vocação que ele. Passei a maior parte da vida me experimentando entre uma profissão e outra, um lugar e outro, na busca de mim mesma.
Embora meu talento tivesse sempre andado de mãos dadas comigo, eu não me dava conta, do que estava bem diante do nariz. Foram anos para perceber o meu caminho e me encontrar nele. E mais: me sentir confortável e segura nesta posição.
E agora aconteceu! Escrevo para pessoas e empresas, o que me libertou de qualquer emprego, e principalmente, dos fantasmas da demissão e desemprego. O sonho libertador de depender apenas de mim mesma.
Sei que empreendedorismo se trata de uma vocação. Quem não possui este talento se arrisca e cai por muitas vezes, o tentando ser. E aprende! À duras penas, mas aprende!
Chegar no ponto onde estou me fez refletir dois pontos: o fato de que meu pai estava certo, mas ainda assim, eu precisava trilhar o meu próprio caminho, para descobrir o empreendedorismo junto ao que faço de melhor. Não seria tão feliz com uma empresa, quanto como agora, escrevendo histórias!
Ser dona do próprio nariz e não depender de vaga de trabalho é algo libertador, bem mais do que podia imaginar. Mesmo que eu não venha a ter tanto sucesso financeiro, já há o alcance pessoal de fazer o que gosto, sem a interferência ou dependência de ninguém, e finalmente o trabalhar onde eu quiser, como e quando eu desejar, de forma tão prazerosa, que em nada se parece com os trabalhos de antes.
Trabalhar hoje é o que mais gosto de fazer! E de agora em diante, compreendo a inveja que tive de meu pai. Com meus pés, cheguei onde queria! De certa forma, se parece com o que ele tanto desejava para mim, mas foi através dos meus passos e do meu entendimento.
Empreendedorismo, sonho e vocação também são um caminho.
E cada um que percorra o seu!