“A sorte não abandona quem trabalha duro” – Pankaj Tripathi, pai de Gunjan.
Eu me pego com a mão no coração, como que em reverência, enquanto limpo as lágrimas, para não perder a nitidez de nenhuma das próximas cenas de “A Tenente de Cargil”.
O filme indiano, dirigido por Sharan Sharma e protagonizado por Janhvi Kapoo, conta a história real da primeira piloto de combate da Força Aérea da Índia e mostra a batalha travada por uma mulher, pelo simples fato de ser mulher.
Nada como ser do sexo feminino para se identificar com Gunjan Saxena ou alguém que mediante um sonho só se depara com pessoas contrárias e desacreditadas.
Felizmente, os grandes heróis de si mesmos e que posteriormente acabam sendo dignos da idolatria de muitos, são aqueles que passam por cima de toda descrença, desmotivação e críticas, quebrando regras e padrões, sejam familiares, sociais, religiosos, de forma coletiva e de longa data.
Como sabemos, independente do que mulheres tentam ser, com muita naturalidade são sabotadas por homens que se acreditam superiores também pelo simples fato de serem homens. Isto acontece não apenas numa Força Aérea, mas ali na esquina, onde há uma empresa qualquer, uma loja, uma escola, academia, ou qualquer lugar onde possam haver homens em posições que lhe permitam manipular um pouquinho ou muito as regras e usar da sua força de poder.
Conversa antiga, supostamente chata e que já deveria ter ficado para trás, mas que não pode e nem deve, enquanto na prática, não se tenham todos os direitos, escolhas e oportunidades iguais. Além da lavagem cerebral e esforço de alguns que se percebe em pequenos grupos, compostos até mesmo por mulheres, que se dizem contrárias ao Feminismo e que “cospem no prato” que lhe permitiram o direito ao estudo, ao voto e à defesa de sua integridade física e moral. No meu caso: o direito de ser escritora!
A história de Gunjan, que luta e sofre para realizar seu sonho de se tornar piloto, passa por vários níveis de dificuldade. A mãe, que espera uma trajetória comum para sua filha. O irmão que não acredita que a irmã pode se defender sozinha, dentre outros. Seu pai, um oficial aposentado do exército, é seu único apoiador e herói. Não o que sai a campo em defesa da filha, mas o que a aconselha e suporta, quando ninguém mais o faz.
Se as regras existem, por que elas também não valem para as mulheres? Porque sempre há os que se colocam contra. Como deve ser cômodo sentar numa cadeira e assistir de camarote essa desigualdade, aproveitando os maiores salários, confortos e regras silenciosas seculares, como se nenhuma responsabilidade tivessem sobre isso.
O filme é uma forma sutil e emocionante de contar a luta de uma única mulher para quebrar as regras e supera-las a muito custo, no auge de sua juventude com uma força interior invejável.
Como um bom filme indiano, há música, boa interpretação, carisma e muita emoção. Um roteiro que começa no ápice e volta quinze anos para contar o ponto de partida. E quando alcança o ponto inicial, já estamos as lágrimas, segurando os braços, as pernas, o fôlego e o sofá. Tudo ao mesmo tempo.
Um filme que exalta a luta de uma mulher e sua vitória extraordinária!
A minha reverência é sua vitória, que reflete na de todas nós!