Não costumo muito ir à peças de teatro, que não sejam para fazer rir. Com o escasso tempo livre, acabo buscando sempre a minha preferência: comédia. Mas se ia rir ou não na peça com a direção de Dan Stulbach, eu ainda não sabia, porém lá estaria mais uma vez “AQUELE” sorriso.
É gente…, Reynaldo Gianecchini.
Pela primeira vez no Teatro Guaíra, fiquei surpresa com o tamanho do local e beleza de seu interior. Apesar do atraso e da multidão no saguão passando calor, gostei da experiência. Sentada no segundo balcão na penúltima fila, não me familiarizei muito com o som do microfone que vinha do palco. Mas bem da verdade, essa distância com os atores foi responsabilidade minha, uma vez quer acabei comprando os ingressos quase de última hora.
A peça começa com Maria Fernanda Cândido interpretando “Beca”. No palco, o cenário é representado por blocos que definem os espaços da casa. “Beca” se encontra dobrando roupas de criança, enquanto conversa com sua irmã “Isa” (Simone Zucato). Elas conversam um assunto aparentemente banal, mostrando as diferentes personalidades das irmãs. No fim, o assunto banal torna-se algo sério: “Isa” está grávida.
Com o desenrolar da peça, percebe-se que a mesma gira em torno da perda de “Dani”, o filho de quatros anos de “Beca” e “Paulo” (Reynaldo Gianecchini), que se deu oito meses antes num acidente de carro.
Logo eu percebi a semelhança com o filme “Reencontrando a felicidade” (com Nicole Kidman), que já havia assistido anos atrás, quando ainda morava na Alemanha. Assim que percebi a coincidência das histórias, me senti um pouco preocupada, pois o filme havia sido um tanto pesado.
Como representar numa peça de teatro a dor imensurável da perda de um filho? Como não tornar a peça tão pesada quanto o filme já havia sido (ao menos do meu ponto de vista)? Quando me dei conta de que já conhecia a história, me senti feliz com a oportunidade de ver a mensagem sendo passada de uma outra forma.
Se o filme havia me decepcionado um pouco, a peça me surpreendeu muito, pois a mesma possui alguns toques de humor, que tornam a história um pouco mais leve. “Paulo” é o pai que está tentando superar a perda do filho e ao mesmo tempo, o marido, que está tentando ajudar a esposa. O elenco ainda conta com Selma Egrei, que vive a mãe de “Beca” e Felipe Hintze, no papel de “Gabriel”, o adolescente que atropelou acidentalmente o pequeno Dani.
A mensagem da história é a mesma, tanto no filme quanto na peça: o luto pela perda de um filho nunca tem fim. Há de se viver com esperança em “sabe-se lá o que”. A mensagem é triste, mas é verdadeira e real na vida de muitos.
A peça foi muito bem apresentada em seu figurino, cenário e principalmente nos jogos de luzes. A meu ver os leves toques de humor foram o melhor. Diferentemente do filme, a peça mostra que mesmo com uma dor constante, ainda há de se encontrar alguma alegria: no dia-a-dia, na família e em qualquer resquício de momento de felicidade.
Devo dizer que o “Festival de Teatro de Curitiba 2014” foi fechado com chave de ouro. Grande elenco e história forte. A plateia aplaudiu de pé. E os gritos juntos aos aplausos para Reynaldo Gianecchini não foram novidade. Mas todos eles mereceram seus devidos aplausos.
Para mim uma lição: se na vida nem tudo é comédia, no teatro também não deve ser. A peça nos remete à profundas e intensas reflexões.
No mais, toda a produção e colaboradores de “A Toca do Coelho” está de parabéns!