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“Amar é um cuidar que se ganha em se perder.”

Luís de Camões

 

Eu nunca admirei tanto um profissional como quando acompanhei os últimos meses de vida do meu pai. Saber que cuidadores existem e que eles são importantes é uma coisa. Precisar deles e observar como eles trabalham são outros quinhentos.

Cuidar do meu pai deveria ter sido um privilégio para mim, como imagino que deva ser para todos os filhos que têm vontade de retribuir o cuidado de toda uma vida. Porém, na prática não é bem assim. Privilégio é estar junto, mas o cuidado diário vai além do que se pode supor.

Quando alguém adoece para ir embora, passa por situações que desconhecemos e então, nos vemos impotentes de diversas maneiras. Meu pai teve momentos de surto, inquietações, raiva, falta de lucidez e precisou ser ajudado no básico: banho, remédios, fralda, o se mover na cama, massagens e distrações.

É delicado ver um pai perder sua vivacidade. Ele era meu herói sem capa. E era bravo, sarcástico, de humor negro único. Seus melhores dias vinham sempre com uma piada de tapar os ouvidos dos seus cuidadores.

Quando a gente chega num momento desses, vive uma mistura de querer ajudar e ao mesmo tempo não querer ver nada daquilo. Como assim eu vou dar banho no meu pai? Como fica sua dignidade? Isso não foi algo que eu quis fazer.

Eu nunca massageei tantos os pés de uma pessoa como os do meu pai naqueles dias. Ele ficava nervoso porque queria sair da cama e alguns remédios o faziam se sentir mal. Então eu colocava uma música instrumental, um vídeo com imagens da natureza e tocava seus pés, até ele se acalmar e dormir.

E assim o amor foi se manifestando como pôde, na medida de cada um. Vi minha mãe, uma senhora de setenta e nove anos, arduamente dar banho em meu pai, assim como a minha irmã. Meu cunhado fazia sua barba e falava com ele como se fosse uma criança. E eu vi beleza e dor em todas essas cenas. Daquelas que nunca mais se esquece.

Eu vi um amor sem igual por parte de desconhecidos, pessoas que nunca tinha visto antes e que de repente estavam ali, no dia a dia, todos os dias, alimentando meu pai, trocando, dando banho, remédios, além da expressão de um carinho e preocupação diária que ainda me comovem, quando penso nisso.

É sofrido ver alguém partir. Tem que se deixar partir dentro da gente primeiro. Chega um ponto, que a gente abre mão, pede para Deus que alivie.

Meu pai se apegou aos seus cuidadores e eu os observei de forma discreta e silenciosa. Eles fizeram pelo meu pai muito mais do que eu podia fazer. Porque por vezes não sabia, outras não podia, e em vários instantes não queria.

O mais difícil de estar nessa situação é ter que ver o que não se quer ver: quem a gente não espera que vá, está indo mesmo embora.

Se o tempo e a vida foram o que mais me trouxeram maturidade, foi a despedida do meu pai que me trouxe a percepção da bondade em certas pessoas. Esse cuidado à beira da morte não é para qualquer um, porque promover a dignidade de alguém nesse momento despende coragem, afeto, apego e desapego ao mesmo tempo. Cuida-se para que o outro parta da melhor maneira possível.

Recentemente, vi um cliente meu, um senhor muito forte e cheio de histórias tristes, chorar, quando me contou sobre um enfermeiro que lhe deu um banho, quando ele teve câncer. Mediante várias dores, o que o fez chorar, foi o banho que recebeu no seu momento de maior vulnerabilidade física.

A nossa intimidade vai além do corpo. Alguém que faz esse cuidado com amor nos toca a alma, no mais íntimo do que existe dentro de nós. Eu ainda não sei fazer isso e não posso dizer que gostaria. Descobri que amor também é dom, talento e não é para qualquer pessoa.

Os cuidadores foram as pessoas mais especiais que passaram pela minha vida neste sentido. Eles estavam lá quando meu pai me perguntou sobre como eu estava indo na escola e eu olhei para ele, tentando imaginar com que idade ele estava me vendo: 12? 15? 10? E eles também se fizeram presentes no velório e eu pude ver a dor em seus olhos, assim como a vontade de consolar a mim e a minha família.

Eu não sei de onde vem tanto amor e bondade, mas eu sei a gratidão que levo comigo e o desejo de que de alguma forma eles possam ser recompensados pelo tanto que fazem e pelo tanto que carregam dentro de si.

Anjos na terra, no momento em que um dia todos nós provavelmente iremos precisar.

Que Deus abençoe essa gente, porque não há o que pague aquilo que fazem: eles preparam o outro para possivelmente ir, quando ninguém mais o sabe fazer.

 

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