Foi numa tarde de sábado, quando meu filho me contou que estava internado há dois dias no Hospital Bosque da Saúde em São Paulo, contaminado pelo corona vírus, sem conseguir andar e respirando com a ajuda de oxigênio.
A primeira reação foi querer dirigir os quase 300 quilômetros de distância para ir até lá, quando meu filho me fez voltar a realidade:
– Não adianta você vir, mãe, acalme-se, você não vai entrar e não vai poder fazer nada. Eu estou sendo bem cuidado!
O coração acelerado, a respiração alterada e a cabeça a mil. Aquele instante em que o tempo para!
O que se faz com um filho internado por covid? Com um pai ou uma mãe? A dor da impotência e o medo, que se formam, até a esperançosa e desconhecida alta são latentes.
Não há o que fazer, apenas se chora, lamenta-se, fazemos nossas orações e agradecemos a Deus por aqueles que fazem por nós o que não somos capazes de fazer.
Eu gostaria muito de agradecer a todos que cuidaram do meu filho, de todo o meu coração. Se pudesse, abraçaria cada um de vocês e levaria um buquê de rosas brancas! E mais do que isso, se pudesse, embutiria na mente das pessoas todo o respeito e carinho que os senhores merecem e precisam neste momento. Todos estamos vivendo este caos, vocês do lado de dentro e nós do lado de fora!
Meu filho disse que foi muito bem atendido, se sentiu seguro assim que foi internado, Ele contou que todos entravam e saiam do quarto com muita frequência, parecendo uma espécie de astronautas, cheio de roupas e proteção. Ele, jovem de vinte e seis anos, com medo de morrer, se sentiu seguro com vocês!
– MUITO OBRIGADA!
Eu gostaria de ter estado ao lado dele, como todo ente querido espera estar ao lado dos seus, mas sabemos como são os procedimentos neste momento.
Só quem vive a dor do medo da perda, ou pior, da perda em si, para compreender a gratidão por tantos profissionais que vivem o nosso papel, no momento mais difícil. Entre a vida e o medo da morte. Quando não a própria morte, sem despedida, na mais indesejada solidão.
Não tenho mais dormido direito. Meu filho já voltou para casa e, não é mais por ele que meu coração se inquieta, mas por toda indignação que estamos vivendo.
Mais de um ano, doutores e doutoras, enfermeiros, cuidadores e todos os envolvidos nesta complexa e dificultosa logística. Quantos pacientes vocês viram morrer? Quantos entes queridos chorando a perda dos seus? Quanto desespero em meio a falta de leitos, oxigênio, remédios e a falta de respeito dos que ainda se reafirmam no negacionismo e desrespeito ao próximo?
Não tenho palavras para o momento que estamos vivendo. Já foram dois livros sobre a pandemia e vários artigos. Agora só me resta a ansiedade e indignação de um lado, e a gratidão de outro – ambas crescentes.
Vocês, Médicos e Enfermeiros, viraram os heróis desta pandemia, em todo o planeta. Em nosso país, onde uma guerra política se posiciona acima da vida, vocês ficaram no fogo cruzado. “Eu sinto muito, de verdade! Gostaria de pedir perdão em nome dos que lhes desrespeitam!”
Chegamos num ponto, em que não parece haver retorno possível, ainda vamos colher muitas consequências do descaso e negligenciamento da saúde pública brasileira e por muito tempo, o povo estará pagando a conta da irresponsabilidade do governo, do desrespeito e da total falta de consciência de muita gente, brasileiros como nós!
Quero confiar na justiça divina, de que cedo ou tarde, iremos colher o que plantamos. Das melhores colheitas que virão, que elas sejam as suas – de doação, coragem, cuidado e solidariedade!
A minha mais profunda gratidão e admiração!
Vocês estão em meus melhores pensamentos! E no de milhares de outros pacientes e familiares agradecidos.
Obrigada!
De uma mãe, eternamente grata por seu filho curado no Hospital Bosque da Saúde!