Nothing else matters no Spotify. Meu espírito se transporta para o banco do seu carro, com o vento forte batendo em meu rosto. Seguimos na estrada, para ver o céu, a lua e as estrelas.
Depois de décadas (Uau, passou tanto tempo assim? Sim! Passou!), percebo em mim a saudade de menina. Talvez seja apenas um reflexo dessa pandemia. Vai saber?! A vontade de fugir para um tempo ou lugar, onde nada disso exista.
Tantos anos se passaram. Eu mudei, sabe? Já não sou mais aquela menininha, conforme você me chamava e até pichou em um dos muros da cidade. Apaixonado e transgressivo, exatamente de acordo com a idade que tínhamos.
Penso que essa nostalgia é de um tempo em que a inocência ainda era viva. Éramos felizes e não sabíamos. Por mais clichê que antes nos parecesse, sim: a vida passa rápida demais.
Ao menos vivemos aquela paixão, meu primeiro grande amor! Éramos livres, sorríamos, nos amávamos e por pouco, brigávamos de vez em quando. Quantas vezes fomos ao rio? Você se lembra? Às cachoeiras? Caminhamos nas ruas da cidade? De mãos dadas em todo lugar.
Quantos beijos foram? Abraços? Descobertas?
Nem sei, mas posso ouvir o seu riso daqui, de onde estou agora. Tantos anos depois, em isolamento e sem mais aquela sensação inocente de que a vida era tão leve.
Penso que compreendo a simplicidade da vida, mas a maturidade também trouxe outros entendimentos, que não me permitem mais amar e ser feliz como outrora. Existe sim outros tipos de felicidades, que são até mais plenas, sabe?
A bendita felicidade interior, a paz de espírito…, sim, elas se fazem aqui, mas não mais aquela cheia de paixões e desejos, tantos frios e borboletas no estômago. A maturidade nos torna melhores, mais maduros e supostamente sabidos. Vai saber? As sensações são boas, mas não mais aquelas.
Ao menos vivemos aqueles dias, meu primeiro grande amor. As lembranças do que fizemos e de tudo que senti me servem agora como uma viagem no tempo, uma válvula de escape para momentos tão bons. Eu diria que até mesmo puros. Na inocência de quem ainda tinha tanto para crescer.
Amores não são eternos, meu primeiro grande amor! Ou será que são?
Se forem, eu diria que você é um deles. A lembrança de ter sido um dia tão feliz e inocente.
Nas ruas da cidade, simplesmente vivíamos, sem pensar demais. Juntos, com risos e beijos que nunca terminavam.
Hoje eu estou aqui, vivendo a pandemia de um lado do mundo. Você de outro.
Casamos, tivemos filhos, separações e tanto mais. Vai saber o quanto você viveu?
Eu não sei, mas certamente você também já não é mais o mesmo.
Levo comigo aquele que você foi.
E mesmo que amores não sejam eternos, esta lembrança sempre levarei comigo.
Meu primeiro grande amor.