Certa vez, um grande amigo se lamentou, pelo fato de que sua esposa era extremamente carinhosa com seus irmãos: ela os abraçava, beijava e fazia vários gestos de carinho. Porém, nada daquelas manifestações vinham igualmente para ele. Tentei confortá-lo, contando que comigo era exatamente o contrário: eu conseguia ser carinhosa com a pessoa que amasse, mas não com meus irmãos. E isto acontece com a maioria das pessoas.
Já reparou como existem diferentes formas de amar em uma única pessoa? Não amamos de maneira igual. Parece que para cada posição familiar e social, existe uma forma de expressar amor, e também diferentes para todas as pessoas.
É normal que alguém que seja extremamente carinhoso com seus pais e talvez não o seja com seus parceiros. E vice-versa. Pode ser que uma pessoa ame tanto os seus pais, que nunca consiga amar o seu parceiro (a) de igual forma, pois esta pessoa já teve o seu amor maior e todas as suas carências preenchidas pelo pai e pela mãe. Mas não é falta de amor, é pessoa bem resolvida dentro de si, que não consegue doar mais do que já o fez para com seus pais.
E o contrário também é comum acontecer. Existem pessoas que carregam uma carência tão grande do amor materno e paterno e um histórico familiar problemático, que não consegue resolver esta falta de entendimento com os pais. Então, o indivíduo não sendo capaz de tratar bem os próprios pais, é extremamente carinhoso e amoroso com o parceiro (a). Tudo aquilo que falta na relação com os pais, acaba tentando se compensar com quem se ama. Nem sempre funciona, mas as tentativas são muito comuns e inconscientes.
Há também o caso de como se foi criado. Se alguém nasce e cresce numa família mais fria, pode ser que com todos os membros daquele núcleo familiar, seja natural um tratamento mais distante e frio. E depois de anos, não se muda a maneira de manifestar o amor naquele meio. Mas se esta mesma pessoa sente falta de gestos mais amorosos, irá tentar compensar no parceiro (a) esta falta de carinho. Ou não. Pode ser que também reproduza num novo núcleo familiar, toda a frieza antes aprendida.
Fato é que todos nós amamos de formas diferentes. Existe uma maneira de amar o pai, a mãe, o irmão, o filho, o parceiro, o amigo, o colega de trabalho, o bichinho de estimação e os estranhos na rua.
Já reparou que tem gente que parece amar mais um animal do que qualquer ser humano? Ou pessoas que conseguem tratar bem os estranhos, mas ninguém de sua família? Para cada caso, há de se analisar o que está por trás daquilo. A facilidade de se animar um animal de estimação, por exemplo, está no fato de que um bichinho nunca trai ou decepciona, a não ser que morra. Tratar bem um estranho na rua, que nunca mais irá se ver, também pode ser fácil, pois não se conhece seus defeitos e não se irá conviver com ele.
A maneira de expressar amor, e para com quem, reflete o espelho de nós mesmos, nossas dores e traumas vivenciados durante toda a vida. As histórias de família, as dores, as ausências e também todos os carinhos recebidos. Muitas vezes, o que pode parecer óbvio não é verdade. Aquele que parece frio, pode não o ser por dentro. E vice-versa. Às vezes quem muito parece amar, só está manifestando uma imensa falta de amor e carência. Pode ser quem nem saiba amar de verdade. E o outro que parece frio e quase nada manifesta, pode estar sentindo muito mais por dentro, mas não sente necessidade de manifestar e nem de solicitar amor.
Somos todos muitos complexos. E antes de julgar o amor de alguém, vale analisar profundamente toda a história de vida de tal pessoa. E antes disso, vale ainda bem mais, fazermos uma avaliação de nós mesmos. Como amamos? Quem? Como? E porquê? Como manifestamos nossos amores?
Entendendo em primeiro lugar como amamos, seremos mais capazes de compreender e receber o amor dos outros.
Tudo pode ser amor. Basta que se reconheça!
https://youtu.be/RDHgSdwJ4ek