Certa vez, participei de uma breve homenagem, feita para alguns funcionários que estavam saindo de uma empresa. Eles haviam dedicado décadas de suas vidas àquele lugar. E como qualquer despedida, aquela não era fácil, mas muito significativa.
Um dos homenageados era uma pessoa a qual eu gostava muito. Um homem maduro, desbocado, falante e bem emotivo e sincero. Do meu ponto de vista, um incompreendido.
Numa sociedade cheia de regras definidas, escritas ou silenciosas, somos quase que obrigados a nos comportar diferentemente em cada lugar. É impossível agradar a todos e seguir tudo o que se espera de uma única pessoa. Por isso mesmo, muitos acabam usando máscaras, ao invés de mostrar quem realmente são e o que verdadeiramente pensam.
Meu colega homenageado era bem um dos “meus”, aquele tipo que fala o que pensa e assume o que faz. Fala tanto e abertamente, que certamente não foi sempre bem compreendido. Da mesma maneira que penso que não sou.
Viver neste mundo e dizer o que se sente e o que se pensa, de verdade, é quase que uma calúnia. Como possuir a coragem de dizer algo que vai contra a maioria? Ou assumir o que se pensa? Que se sente de outra maneira? Sente? Não pode, não deve.
Num mundo cada vez mais exigente e confuso, enquanto a maioria segue as regras de etiquetas silenciosas de cada lugar e das pessoas ao seu redor, pouquíssimos são os que expressam a sua verdade, seja ela considerada “de acordo” ou não.
Gosto desse tipo de pessoa. Me encanta aquele que consegue ser verdadeiro com si mesmo, mesmo que isso signifique não ser aceito pelos demais. A sinceridade rara de quem se aceita como é, com todos os defeitos que possui, seja numa fase boa ou ruim.
Ser diferente é normal, mas poucos percebem que viver em sociedade, nos exige muitas vezes, por motivo de “encaixe”, ser parecido com a maioria. Não ser aceito por quem gostamos ou no meio em que convivemos nos machuca. É preciso muita coragem, para permanecer num meio e agir fielmente ao que somos, ser diferente da maioria, e sofrer o julgamento de quem finge ser o que não é.
Naquele dia, meu colega fez um discurso de agradecimento e adeus. Em meio à sua sinceridade e emotividade desconcertante para muitos, ele disse: “Eu não tenho problema financeiro. O que é difícil, é saber que eu não virei mais aqui. Não tenho mágoa da empresa, entendo, aceito. Mas vou sentir falta. Eu gosto de estar aqui”.
Em poucas frases e simples, sua verdade apareceu mais uma vez. E embora tenha demonstrado sua profundidade, não creio que a sua intensidade de significados e sentimentos foi percebida pela maioria.
“Ser quem se é” é para poucos.
Para mim, mais importante do que ser aceito pela maioria é ser aceito por si mesmo, sendo verdadeiro com aquilo que se sente e o que se pensa. Raridade neste mundo. Nada-se contra a correnteza quase que a todo instante.
E assim caminha-se: a maioria com a maioria, julgando mal os que não caminham com eles.
E já dizia Nelson Rodrigues: “toda unanimidade é burra”!
Feliz mesmo é quem é aceito por si mesmo e segue, ainda que com poucos ou sozinho.