Outro dia, quando terminei uma conversa com a minha mãe ao telefone, senti um nó na garganta, ao perceber o desejo de ter dito “eu te amo”, antes de terminar a ligação. Ao mesmo tempo em que senti o choro contido, refleti sobre a minha dificuldade. Por que dizer “eu te amo” parecia tão difícil?
Para muitas pessoas a frase “eu te amo” vai e vem com a maior facilidade, enquanto que para outras, parece haver necessidade de permissão para amar e expressar amor. Mas por que isto acontece?
No meio familiar é comum que existam histórias de conflitos ou frieza entre seus membros, bem como dificuldades de relacionamentos durante a vida. Há brigas, dores silenciosas e revoltas escondidas. Por anos, ao mesmo tempo em que o amor se faz presente, de mãos dadas também estão os emaranhamentos familiares, seja do que for, faz parte de quase todo sistema familiar.
Independentemente do nível de amor que exista numa família, sempre haverá um lado negativo a ser trabalhado, que na maioria das vezes, dura uma vida inteira.
Porém, me perdoei por não ter mencionado a frase, por acreditar piamente que nossas atitudes falam por nós, muito mais do que palavras. Sei que existem inúmeras maneiras de amar e de expressar amor: no cuidado, num telefonema, numa visita, num sorriso ou num simples ouvir com atenção.
Eu tive uma avó que sempre preparava uma sobremesa quando eu a visitava. Me recordo de nunca ter ouvido um “eu te amo” por parte dela, mas não duvidei por nenhum dia sequer, de que ela tivesse me amado verdadeiramente. Na verdade, esta avó era muito autêntica. Bem à frente de sua época, eu nunca ouvi tantos palavrões juntos saírem da boca de uma única velhinha. Ela esbravejava e ria em seguida. Pequenininha, bonita e certamente sarcástica.
Meu pai, filho da mencionada avó, também não é lá um poço de delicadeza ou sensibilidade, aliás, quase nenhuma.
Eu, filha de meu pai, não costumo falar os palavrões de minha avó e nem sou assim tão indelicada quanto meu genitor. Porém, nenhum fruto cai longe do pé. Quando observo os meus, me dou conta de que nenhum de nós realmente é amoroso o bastante para mencionar a frase “eu te amo” com frequência e naturalidade.
Cada um tem uma forma de amar, que geralmente se molda no meio dos seus. Pode ser que se aperfeiçoe na formação de sua própria família, ou não.
Mas certo é que amor todos temos, uns mais, outros menos. E a arte de expressar o que se sente não pertence a todos da mesma maneira. Uns expressam pela voz, outros pela escrita e outros ainda preparando um bolo ou contando uma piada. Tem os que apenas se sentam para conversar e rir, seja do que for.
Dentro de mim mesma, entendo que amo, mesmo quando não o digo. E sou amada, mesmo quando não ouço o fato, ou o leio em palavras escritas. Ainda assim, sinto que deveria dizer“eu te amo” mais vezes. Creio que o direi, conforme superar minha falta de naturalidade.
Na evolução nossa de cada dia, um passo de cada vez.
Minha mãe sempre que se despede, expressa seu amor naquilo que mais confia, dizendo “Deus te abençoe! ”.
E hoje quando terminei uma longa conversa com meu filho, eu disse: “Deus te abençoe! ”.
Pois é. Cada um perpetua o amor que tem. E da forma que conhece!
https://youtu.be/_930NJudYls
2 Comments
Carolina Vila Nova: Eu te ❤
que amor, kkkkkkkkkkkkk, obrigada!!!