– Tchuco!
– Pitchuco!
– Cadê o meu amor?
Frases mais entoadas na minha casa durante a quarentena, com aquela vozinha irritante de quem brinca com um neném. Fazer o que, se o gato virou meu bebê, crush e companheiro?
O antigo sonho de ter um persa se concretizou na hora certa: numa fase de caos, medos e incertezas. Ao invés de solidão: gato! No lugar de ansiedade: gato! Rua: gato! Happy Hour? Gato! Insônia? Gato!
Sinhozinho Leôncio podia até se chamar “Covid”, mas quem daria um nome desse para uma coisinha tão fofa?
E agora a minha rotina é assim. Levanto em torno das oito com o bebê me acordando. Ele se joga no chão, pedindo colo com aquela mistura de cara de gato, coruja e de Greemlins (O filme), antes de se transformar no monstro vilão.
Com ele no colo, abro a janela e admiro a vista, enquanto o gato fica mordendo a alça da cortina e a tela de proteção. Seguimos para a cozinha, onde ele come como um desnutrido e eu faço o café. Em seguida, a criança vai saltitando, correndo e fazendo malabarismos para onde fica a sua caixa de areia. É incrível como ele sabe cada passo que vou dar e segue antes de mim.
O café eu tomo aos poucos, enquanto chuto uma bola de papel por todo o apartamento e pela sacada. Em algum momento, tenho que abrir as portas para ele passear nos corredores e cheirar as portas dos vizinhos.
A manhã segue, entre um chute de bola, um gole de café e atividades domésticas, vou dando conta das mensagens no celular, e-mails e redes sociais.
Se eu paro de chutar a bola antes do tempo, o escândalo começa. O gato mia como se estivesse sob tortura.
Devo dizer que ele come aproximadamente a cada três horas e isso não me parece normal. Na hora do almoço, primeiro ele, senão perco qualquer chance de uma refeição tranquila. A tarde passa silenciosa e é a minha melhor hora de trabalho, pois ele, o gato, descansa.
Durante a noite, algumas brincadeiras, depois me acompanha na TV, num vídeo no YouTube, morde meu celular, se quer atenção e se deita ao meu lado enquanto escrevo no computador. E depois, banho! Com ele aguardando do lado de fora.
Se decido dormir, o gato me acompanha até a cama, onde leio. Quando pego no sono, ele sai. Como um bom felino, não é carente, nem grudento. Sabe a hora de se retirar.
Uma rotina que se encaixa muito bem com a minha e até aí, nada demais. Não fosse pela alegria da companhia e dos risos que me arranca com os pulos exagerados, poses exóticas e o chamego sem fim.
Uma vida em isolamento com um ser de quatro patas bem mimado. Mesmo assim, penso que a relação que se tem com um gato é capaz de salvar qualquer um da ansiedade e tristeza, inclusive a de uma quarentena, imposta por uma pandemia sem data para acabar.
Nos Estados Unidos, vários abrigos ficaram vazios no início da pandemia, mostrando que a minha ideia não foi exclusiva, enquanto outros tantos animais foram abandonados na mesma época.
Tudo é uma questão de percepção. Enquanto uns olham no animal de estimação um risco de contágio e com isso os abandonam, outros o percebem como um remédio para o isolamento.
Uma médica e pesquisadora espanhola percebeu que dentre os doentes do Covid-19, a maioria deles não tinha gatos. Num pequeno estudo, chegou à conclusão de que, como o gato pode ter outro tipo de Covid, a convivência com os felinos possivelmente torna os gateiros imunes ao vírus, numa forma de imunidade cruzada. Mais estudos ainda virão para confirmar esta tese.
No meu caso, não preciso de pesquisa ou estudo para saber que os risos de cada dia tem sido o gato quem me dá!
Se a pandemia e o isolamento tornaram a vida difícil, foi o meu gato que tornou essa fase leve e feliz!
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Sobre a pesquisa relacionando donos de gatos e imunidade ao Covid-19:
https://defesadafauna.blog.br/2020/05/27/gatos-podem-aumentar-a-imunidade-contra-covid-19/