(…)”Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam…”
Martin Luther King
O início deste janeiro de 2.021 ficará marcado na história de muitos. E creio que deveria ficar na memória de todos, no mínimo como respeito e reverência por tudo que ninguém deveria viver.
Se no início da pandemia as pessoas se mostraram mais capazes de seguir as regras e conselhos mundiais como usar máscaras, lavar as mãos e não se colocar em situação de aglomeração, por certo foi pelo medo da própria morte, inusitadamente, tão próxima!
Todos temos medo de morrer e evitamos pensar sobre a forma como isso irá acontecer. A morte é fato certo, que a maioria ignora, por ser ao mesmo tempo a coisa mais certa e incerta da vida. Ela está em algum lugar esperando por nós, dela não se foge e não se escapa. Mas o que vem depois? Ninguém sabe, muitos especulam e afirmam saber, mas ninguém, na verdade pode dizer o que vem em seguida.
Se alguns tem fé e espiritualidade elevada o bastante para não temer o que vem depois, ótimo, mas ainda assim, imagino que mesmo os que possuem fé não desejam uma morte lenta, dolorida e desamparada, como o que está acontecendo em Manaus e provavelmente em outros lugares do nosso país, que ainda não foram noticiados.
Sabemos que o SUS, nosso sistema de saúde público não é perfeito e há ainda muito o que ser desenvolvido, mas diferente de outros países, se estende no atendimento a toda a população, mesmo que ainda não dê conta disso, muitas vezes. Não se engane! Na Alemanha, por exemplo, o sistema de saúde só atende a quem o paga. É tão caro quanto um plano de saúde no Brasil, igual ou mais caro, mas não é de graça. Morei no país por seis anos e sei o quanto tive que pagar. E pasme: atendimentos em consultórios são de longa espera e feitos na maioria das vezes em cinco minutos.
Não espero com este artigo pontuar culpados, políticas públicas ineficazes ou teorias da conspiração. O que espero é chamar a atenção dos leitores, que a qualquer momento podem se tornar usuários do sistema de saúde público ou privado, para ressaltar e refletir sobre o que estamos fazendo como seres humanos diante deste cenário pandêmico que se agudiza.
Enquanto diversos continuam brigando por ideologias e pontos de vista religiosos ou conspiradores, muitos continuam morrendo e muitos outros se infectando. Como era previsto, não adiantou os vários ataques indiscriminados aos noticiários e jornalistas, sendo que o momento atual evidencia e comprova o que eles tanto alertavam: as festas de fim de ano no país favorecendo as aglomerações iriam preceder o caos. O caos está aqui, agora: pessoas morrendo asfixiadas, como se estivessem sendo afogadas, pois esta é a sensação de quem morre de Covid desassistidamente.
Você consegue se colocar no lugar de alguém que está passando por isso agora? Pode se imaginar morrendo assim? O seu pai ou a sua mãe? Seu filho?
Vi pessoas de meu convívio afirmando não acreditar no vírus que hoje estão no hospital. Vi posts de pessoas conhecidas contra a vacina, que tiveram seus entes mais queridos internados, vi demonstrações públicas de completo desconhecimento ou ignorância dos perigos de contágio.
O que mais será preciso para que tantos de nós percebam que estamos sim vivendo uma pandemia grave e que está se tornando gravíssima graças a irresponsabilidade de muitos? Estamos indo contra a maré. Médicos e enfermeiros em exaustão pedindo socorro, enquanto jovens organizam e se divertem em festas clandestinas, levando o vírus para casa depois. Até mesmo os jornais mostraram pessoas arrependidas pelas festas que fizeram no Natal e Réveillon e se viram infectando toda a família a partir de então.
Não somos apenas nós, é o mundo todo. E porque justamente o Brasil, que é menos desenvolvido e que tem condições deficitárias de educação acha que está certo em relação a todo o resto? Esta atitude que está se tornando institucionalizada, seja por atrevimento dos ignorantes, seja por real desconhecimento da população está nos tornando desumanos.
Gente! O vírus existe sim, ele mata e o Brasil não dá conta de acolher a todos os infectados nos hospitais. A falta de oxigênio em Manaus pode se repetir em vários estados, a qualquer momento. Ah, você não tem medo de morrer asfixiado? Mas será que seu pai não tem? Nem sua mãe? Seu vizinho? Seu filho? Seu irmão?
Que cada um possa se autoavaliar e além das lástimas pessoais, se posicionar sobre o que está fazendo em relação a tudo isso, seja seguindo as regras, expondo opiniões, postando o ser a favor ou contra o que é sugerido fazer e daí por diante, pois todos somos responsáveis pela sociedade em que vivemos, através de nossos exemplos e atitudes.
Dos que me contaram firmemente não acreditar no vírus e ser contra a vacina e ter que se internar num hospital em seguida, eu apenas senti muito e desejei que melhorassem. Nem todos se curaram ainda. Mas espero que além de curar o corpo, possam curar sua falta de empatia e responsabilidade de ter feito parte dos que propagaram a informação errada, da coletividade que não se importa com ela, até que a verdade bata na porta de sua casa e entre!
É hora de rever as próprias opiniões. E se acaso não tiver coragem de assumir um novo posicionamento, ao menos silencie em respeito aos tantos que já se foram e aos tantos que ainda irão. Pergunto-me: onde está a compaixão que nos torna seres humanos? Onde está a manifestação concreta do “ame ao próximo como a ti mesmo”? Ou estamos falando com fariseus?
A pandemia não acabou. E infelizmente a ignorância também não, ambas são correlatas e estão em franco crescimento. A toda Manaus e a todos que estão passando por isso com o olhar de indiferença e alienação generalizado dos demais, o meu mais sincero sinto muito! A hora, agora é de saltarmos da consciência estreita do eu pessoal para a esfera mais ampla do coletivo que somos.
Do eu para o nós!