“Saudade é um sentimento que, quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.”
Bob Marley
Na verdade, sonho com você quase todas as noites, mas ontem foi engraçado. Você estava na cadeira de rodas e tirava sarro de mim, junto com meu sobrinho, por que eu tinha tido um ataque de dor de barriga.
Isso me pareceu bom. Seu sarcasmo sempre foi sinal positivo, assim como a sua irritação. Como você disse em seu último aniversário:
– Eu não vou pagar o churrasco!
Gostaria de saber como você está. Foi acolhido? É o que eu espero.
Mesmo com toda fé e orações, fica a dor no peito da saudade e de não saber ao certo.
Me preocupei quando minha mãe doou seus olhos, pai! Você sabia? Senti orgulho dela, de todo desprendimento e desapego, quando lhe foi questionado. Já eu, do outro lado da sala, senti quase como se fosse uma ofensa.
“Como assim vocês querem tirar os olhos do meu pai?”
Sou e continuo sendo a favor da doação de órgãos, mas os seus olhos azuis, pai??? Onde eles estão agora?
Desde então, vivo dentro de um romance, esperando que um dia, eu possa encontrar alguém e reconhecer seus olhos. Já pensou? Daria um belo de um filme e uma homenagem a você.
Já sei, já sei, quase posso ouvir daqui:
– Ninguém quer homenagem…
Ontem a lareira foi acesa. Primeiro eu a acendi e tentei mantê-la assim. Fiquei olhando o fogo e pensando em quantas vezes fizemos isso juntos. A insistência em assar batatas-doces bem ali, no meio da sala.
É difícil a vida sem você, pai. Você faz falta. Não que você falasse muito, mas você estava lá, sabe? E agora? Onde você está? Com quem? Está tirando sarro de alguém? Estão te tratando bem por aí? Anote suas reclamações e me conte quando eu sonhar com você, vamos ver o que podemos fazer.
É pai… a vida é isso aí, passa depressa demais, quando o entendimento chega, “puf”, as coisas boas começam a ir embora. Você se foi, um pedaço de mim ficou amortecido e meu filho está longe. Acho que pode logo se casar, vai saber. Espero que sim. Que venham os netos e que a vida nos presenteie com o milagre de sua renovação.
Onde você está, pai? Sinto saudades e sei que não sou só eu.
Falamos de você todos os dias, num frio que faz doer ainda mais a sua ausência.
Mas nem pense nisso, continue me visitando em sonhos!
Até lá, sempre estarei buscando os seus olhos azuis, em algum lugar.
Quem dera eu soubesse tudo o que eu sei hoje, desde sempre. Quem dera não houvesse a imaturidade e revolta dos tempos de juventude, do tempo em que me transformar numa pessoa adulta era tão doloroso. Quem dera eu tivesse aproveitado mais e não me importado com coisas pequenas. Teria abraçado mais, sorrido mais, participado mais. Felizmente vocês estão aqui. E por isso gostaria de dizer: me desculpem ter demorado tanto tempo para crescer! Me desculpem…
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1 Comment
Excelentes e instigantes obras de escrita. Obrigado.