Charlotte Gainsbourg and Jamie Bell in the movie NYMPHOMANIAC: PART TWO - April 18, 2014 Directed by Lars von Trier Cast: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgrd, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Jamie Bell, Willem Dafoe, Mia Goth, Jean-Marc Barr Genre: Drama Specs: 130 Distributor: Magnolia Pictures Synopsis: NYMPHOMANIAC: PART TWO is the story of Joe (Charlotte Gainsbourg), a self-diagnosed nymphomaniac who is discovered badly beaten in an alley by an older bachelor, Seligman (Stellan Skarsgrd), who takes her into his home. PART TWO picks up where PART ONE leaves off, with Joe recounting the dark and erotic exploits of her adulthood.
Não há dúvida sobre o sucesso do filme NYMPH()MANIAC. Se o primeiro volume só havia sido exibido no Espaço Itaú de Cinema, o volume II se espalhou por vários shoppings de Curitiba. Acabo de voltar do cinema do Shopping Estação, onde me senti incomodada quase que o filme inteiro com a entrada de adolescentes durante a exibição do filme. Estava claro: os jovens queriam ver as cenas de sexo explícito. E viram! E riram. E conversaram. Foi uma chatice. Desorganização total e falta de estrutura do local para estrear tal filme.
Interrupções à parte, afirmo que o volume II está ainda mais forte e intenso do que o primeiro. Apesar de uma quantidade bem menor de cenas de sexo explícito, a sexualidade está retratada no enredo de forma ainda mais profunda. Nas perversões que substituem ou complementam o sexo, na busca desenfreada da personagem em sentir prazer novamente com sua sexualidade. Uma busca incessante pela capacidade de atingir o clímax.
Joe está mais uma vez com seu novo e recente amigo Seligman. Porém, as revelações neste volume são de muito maior importância, pois envolvem terceiros, sentimentos e responsabilidades bem mais cobradas em nossa sociedade. Tais revelações nos levam a reflexões ainda mais intensas sobre a vida e sobre o ser humano. Afinal quem é o próximo na sua mais profunda intimidade? Como encara o outro a sua sexualidade? O que ele faz entre quatro paredes? Sozinho, a dois ou a quantos? Se eu já não sabia quem eu era quando entrei naquele cinema, na saída soube menos ainda. Esta é a maior graça da história toda. A infinidade e intensidade de reflexões interiores às quais o filme nos leva.
É fácil viver numa sociedade e interpretar um papel para os demais. Mas a sua intimidade quase ninguém expõe, quase ninguém conta. Os desejos mais secretos, as perversões obscuras, não aceitas pelos moralistas de plantão. E convenhamos, geralmente são os moralistas e comportados que escondem os mais terríveis segredos e desejos, julgando o comportamento alheio para esconder o que pensam e sentem de verdade.
A dura realidade sobre nós mesmos é que nem nós, podemos nos descrever por inteiro. Seres humanos frágeis, quebra-cabeças ambulantes, que se montam e desmontam no decorrer de vidas inteiras e nunca se completam.
Para mim a melhor parte do filme foi quase no final, quando o amigo de Joe, Seligman, a defende de seu próprio comportamento, colocando figuradamente um homem em seu lugar. Joe, que se sentiu culpada a vida inteira pelo vício que não a permitiu uma vida normal, feliz e de acordo com os padrões. Mas Seligman ressalta o fato de que se fosse um homem em seu lugar, ninguém na sociedade o julgaria. Correto. Fim de papo.
A pior parte foi o final, o qual me recuso a contar. Ao mesmo tempo em que parece óbvio, é também uma surpresa pelo que se espera dele. O óbvio é o que o filme mostra desde o volume I: sexo é sexo em qualquer lugar do mundo, com qualquer um, em qualquer hora, nos domina e nos subjuga a força que ele exerce sobre nossa natureza humana. E a surpresa é que o que se esperava para a pobre personagem não acontece: que ela estivesse errada sobre o que pensa e o que espera das pessoas. E no fim das contas, ela estava certa mais uma vez.
Se agradando ou não do final, o filme vale a pena para quem está disposto a entrar numa sala de cinema, para ver o humano e emocional por trás do sexo doentio. A luta contra a própria natureza, a culpa e a dor que se carrega numa vida, que por fim se torna miserável e ao mesmo tempo íntegra, pela honestidade que a personagem carrega sobre ser quem ela é sem máscaras.
Para mim, só uma palavra: sensacional!