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Quando o coração dói
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O beijo que dei em meu pai

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Meu pai sempre foi turrão. Aos setenta e cinco anos de idade, ele já sabia a um tempo que tinha problema na vesícula. Mas quem disse que ele foi ao médico? Exames, consultas, preventivos? Tá de brincadeira, né? Então essa semana veio o susto. Depois de dias em sua casa com dores abdominais, ele acabou sendo internado.

Fiz a viagem até a minha cidade natal já ciente, de que ele passaria por uma cirurgia. Parece que a vesícula não era um ponto forte na família. A do meu pai já seria a terceira…

Depois de quatro horas dirigindo e um rápido almoço, fui ao hospital junto com o meu filho. Contei as melhores novidades, tentando animar aquele ambiente nada aconchegante de hospital. As horas passam depressa e algumas visitas também. Alguns exames e o médico cauteloso: “Vai ter que operar! E se possível ainda hoje!”. Mas algumas palavras do médico realmente me deixaram preocupada. Considerando a idade, o “stent” no coração e a situação em que se encontrava a vesícula de meu pai, não seria uma cirurgia simples e sem riscos, mas o contrário. E o órgão por completo seria retirado.

A família se alarmou, principalmente os que lá estavam: eu, minha mãe e meu filho. Acostumados ao homem forte, independente e ranzinza, não era confortável vê-lo fragilizado numa maca. Era a primeira vez que eu via meu pai indo para um centro cirúrgico. E nessas horas mil coisas passam pela cabeça. O medo de perder figura tão importante em minha vida e na vida de meu filho trouxe o pensar de tudo o que foi e de tudo que viria a ser, caso aquela pessoa tivesse que ir embora.

Assim como minha mãe e meu filho, tentei permanecer forte. Na verdade foi tudo bem rápido. E antes que as enfermeiras o levassem, beijei sua testa e disse: “Boa sorte! Estaremos aqui quando você voltar!”. Quase que em silêncio ele se foi. Ficamos os três parados na porta do quarto olhando a maca sendo empurrada. Quando ela desapareceu no corredor, minha mãe começou a chorar. A abracei e disse poucas palavras.

Voltamos para o quarto. Meu filho se sentou na poltrona do quarto e abaixou a cabeça. Não era apenas seu vô e herói que tinha sido levado há poucos minutos, mas o homem que havia usado joelheiras quase vinte anos antes, para engatinhar com ele no chão. Meu pai havia sido mais para o meu filho do que para mim mesma. Meu filho também chorava o medo de perder o “pai”.

Eu o abracei e disse: “Ele é seu pai! Meu e seu! Sinto muito!”. E naquele momento choramos juntos sem nenhuma palavra o medo do vazio e de toda dor que poderia preencher nossas vidas dali em diante. O medo e a proximidade, do que poderia vir depois, preencheu por um instante cada centímetro daquele quarto.

As horas passaram e o médico volta, após a cirurgia: “É grave! Ele vai para a UTI e tudo vai depender da reação do organismo dele”. Vimos meu pai gemendo, sendo transportado do centro cirúrgico para a UTI. Tomados pelo cansaço, mas ao mesmo tempo mais aliviados, voltamos a vê-lo apenas no dia seguinte.

Mesmo antes da hora da visita, o hospital informa que ele havia tido alta para um quarto normal. Logo que chegamos, ele já se levantou e foi ao banheiro, quase como se nada tivesse acontecido. Lembrei de outras palavras do médico: “O é velho forte. Tá inteiro!”. Não demorou muito e o humor típico do meu pai já estava de volta, ainda que com alguma dificuldade pós-cirúrgica.

E mesmo após todo o final de semana de um feriado prolongado no hospital, levo comigo, apesar do susto, somente os abraços que dei em minha mãe e em meu filho.

E o beijo que dei em meu pai.

https://youtu.be/YQ2DQH9D0kY

 

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