Recentemente ouvi a afirmação, de que não existe nada pior no mundo do que um despertador. Não pelo barulho em si, mas pelo que o objeto representa. Acordar de manhã com horário marcado é para alguns quase que sinônimo de escravidão. O não viver como se deseja está materializado no despertador.
Entendi o ponto de vista. Tão bom seria viver a liberdade de escolha. Dormir a hora que se bem entende e se levantar quando houver vontade. Sonho de muitos, realidade de raros.
Certamente todos gostaríamos de viver da melhor forma possível. E creio, que para a maioria, isto incluiria ter tanto dinheiro a ponto de, talvez, já nem se trabalhar. Com um mínimo de sensatez, descobriríamos uma forma de continuar produzindo algo bom, mesmo com as “burras cheias”.
Vivemos num mundo saturado, complicado e caótico. Para alguns poucos pode até ser fácil falar sobre fazer o que se gosta. Uns já tem a sorte ou competência de fazê-lo. Mas também acho que está faltando um pouco mais de zelo pelo próprio ser-humano, quando se diz respeito a pressão que hoje se exerce para se ser isto ou aquilo: “viva deste jeito”, “seja positivo”, “seja feliz”, “faça o que gosta” e por aí vai.
Fácil falar. Mas não tão simples de ser feito. Complicado é ter a sorte de nascer numa família estruturada financeiramente e emocionalmente e assim atingir todos os objetivos e sonhos traçados para si mesmo com facilidade.
A palavra da moda, resiliência, diz respeito ao fato de se aceitar o que não se muda. Nos ensina a parar de dar “murros em ponta de faca”. Se tal pessoa é “assim ou assado” e eu não gosto, aceito e pronto, a pessoa em questão não tem que mudar, porque eu não simpatizo com seu jeito de ser. Dentre tantas coisas mais importantes, a resiliência nos transforma em seres mais maduros e maleáveis para a vida.
Hoje eu acredito que a resiliência também deve ser praticada a nível social. Não é muito justo e nem sensato afirmar que pessoas que trabalham em empresas se tornam escravas alienadas ou quebrar todos os despertadores de casa.
Vivemos em uma sociedade em que se ter o próprio sustento, uma casa para morar e um emprego é quase que uma dádiva. Nem todos temos a casa que sonhamos, o salário que desejaríamos ter e nem o emprego dos sonhos.
Mas se eu quero um dia viver sem despertador e ter o meu próprio negócio, seja ele qual for, busco um caminho para tal.
Não acredito muito em sorte, mas em esforço!
Até lá, ouve-se o barulho do despertador com alguma gratidão, porque se tem um emprego para onde ir, se pertence a um grupo profissional, onde se aprende e se produz algo, que trará algum aprendizado, a ponto de um dia se mudar a própria vida.
Também não gosto muito do despertador. E vou adorar trabalhar quando bem entender um dia. Mas até lá, ficaria feliz de ver menos pressão psicológica sobre os que vivem a vida como podem.
Talvez, a pressão que se exerce hoje sobre o ser humano, do dever de ser o que se sonha, grite mais alto do que o próprio som que qualquer despertador é capaz de fazer.