Ontem você sonhou que revivia seu último dia no trabalho. Os cenários não eram os mesmos e as pessoas pareciam tão desfocadas, que você nem as via. Conforme o momento de ir embora se aproximava, você chorava. Foi um choro tão sentido, que senti pena de você. Desejei lhe abraçar e lhe recompensar por uma dor que não entendi bem qual era. Por que você chorou, doce menina? Se na realidade não foi assim? Creio que você estava ressignificando algumas coisas dentro de você: que bom…
Como tanto mais, você está se transformando em alguém, que ainda não conheço. Ouviu de pessoas que confia, que foi boazinha demais, solícita demais, transparente demais. Não gostou de ouvir isso, porque se recusa a ser uma pessoa ruim. E agora? O que vai fazer? Eu sei: você ainda não sabe, mas não aceita mais se decepcionar com pessoas que gosta e acredita. Ou gostava e acreditava, vai saber… Talvez você não saiba exatamente o que quer, mas sabe exatamente o que não mais aceita. Vai evitar a repetição a qualquer custo. Quanto vai custar…?
Você está se transformando. Parece que as tantas perdas destruíram suas últimas estruturas. É claro que algo novo vai nascer, mas ainda não sabemos bem como ficará no final.
Quem é você agora? Você não sabe…? Não, não sabe.
Onde está aquela culpa que carregou por anos a fio, cheia de remorso, dor e introspecção? Ao mesmo tempo que você percebe que a culpa se foi e se sente mais leve, ainda se pergunta, se pode ser assim. Deixe que ela se vá, ela não lhe pertence mais, aceite que finalmente se libertou.
Também deixe os que não querem mais ficar irem embora. Você tem deixado, eu sei, mas deixe mais. Abra a porta para que eles se vão, escancare, arrombe se for necessário. Assim é a vida, menina: movimento. Uns chegam, outros se vão, poucos sempre estarão aqui. Acostume-se: é assim que se vive.
Agora me diga, o que procura nos desconhecidos? Que amor é esse? Companhia? Prazer? Romance? Você sabe que não é isso, mas há algo que busca, que nem eu e nem você compreendeu ainda o que é. Tente entender depressa, para não se machucar. E mais: não se decepcionar mais uma vez, ao enxergar alguém como a você mesma. Não perca tempo. Temos muito a fazer. Não tenho certeza, se irá encontrar suas repostas ali.
Quem é você hoje? O que quer ser? Você sabe? Não, você ainda não sabe. Está tentando entender, sentir. Vejo que aceita o fluxo, com a consciência que lhe é devida. Reflete a possibilidade de erros e acertos e se joga como numa enxurrada junto à calçada. Deve ser mesmo, uma enxurrada de água suja, levando tudo o que passou nos últimos tempos.
Apesar de toda decepção, tudo isso a fortaleceu ainda mais, numa calma e leveza, quando tudo parecia desmoronar.
Coisas novas estão surgindo: você está mais leve, mais calma. Onde foi parar o sentido de urgência? Depois de tantos anos e tanta intensidade, ele simplesmente se foi. Será que isso é bom? Eu não sei, nem você.
E agora, menina? O que vai fazer?
Onde está a velha ansiedade? Os medos? Receios?
Eu não sei quem você é, ainda não a reconheço.
Sei que você está se transformando, é claro, evidente, palpável como as lágrimas que aqui se fizeram.
Seja bem-vinda nova menina.
Se vai ser pior com os que lhe ferem, não sei, mas creio que deve mesmo desprezá-los. Poucos mereceram todo o amor que você lhes deu. Talvez você deva continuar assim, mas aprenda a enxergar as pessoas por trás de suas máscaras. Sim, isto seria algo muito importante a se fazer. Faça isso por mim, por nós duas.
Sei que você está se transformando, é bem claro para mim. Ainda não sei bem quem você é, mas a aceito, do jeito que for. Estamos juntas, saiba disso. Claro que espero e acredito que será melhor do que eu, que agora lhe escrevo, dentre lágrimas de despedida de mim mesma.
Se achegue, você será bem recebida. Tome conta. Está acolhida.
Seja você quem for, simplesmente chegue.
Bem-vinda!
3 Comments
Oi Carol,
Que bom que você tem facilidade de externalizar seus sentimentos através da escrita, acredito que isto além de ser bom para você pode ser muito bom para as pessoas que lêem seus artigos/blogs.
Sucessos nesta nova caminhada!
Abraços
Aldo
Obrigada Aldo!!!! As sessões tem ajudado muito, kkkkk, um abraço!
Super texto! Profundo.
Espero que esteja bem.