Hoje eu corri até parar de pensar. Decidi que correria até não ter força mais, para exercer qualquer pensamento. Corri para aliviar a dor da alma, de tudo o que não foi, daquilo que nunca aconteceu.
Eu corri para parar de sentir saudade. Para não sentir mais a vontade de pertencer a você. Corri para que as lágrimas que nunca se fizeram, tivessem a oportunidade de se transformar em suor. Corri, para que a aceleração dos meus batimentos cardíacos pudesse substituir aqueles que sinto, quando você se aproxima.
Corri, porque simplesmente não existe mais aproximação alguma. Sequer houve de fato.
Pelos anos de amor platônico. Pela mentira que em mim se fez e por toda a dor que ela me causou. Pela verdade cruel, de que este amor me tornou uma pessoa melhor e pela primeira vez ter amado alguém pela admiração de sua alma.
Corri, porque o desejo sempre existiu, e pela primeira vez, foi menor do que a admiração. Pela dor que me causa a verdade de nunca ter sabido amar antes. E nunca ter recebido qualquer reciprocidade neste, tão verdadeiro.
Eu corri de mim mesma, das verdades que me ferem. E confesso: tentei correr para algo novo, que me liberte a alma de você e de tudo o que você ainda representa.
Corri pelos beijos que nunca foram dados, pelo corpo que não se juntou ao meu. Pela fala ao pé do ouvido que não ouvi. Corri pela dor que me causa a saudade de tudo que nunca foi.
Pelas conversas francas e tão sinceras jamais entoadas. Pelas oportunidades que nunca existiram, somada ao amor que nunca foi tão vivo.
Pela felicidade que sinto em apenas saber que você está feliz. Pela vida emocional medíocre que imagino que você tenha.
Pelo amor que vejo em seus olhos, a cada vez que olha para os meus, ou para o olhar hipnótico que possui em direção aos meus lábios, enquanto falo.
Por toda ilusão e falsa esperança que tive, eu corri. Corri e gritei por dentro. Chorei a falta que sempre senti e que ainda me acompanha.
Corri o desespero de ter você sempre comigo, mesmo que há quilômetros de distância e meses sem sequer um suspiro.
Corri porque te amo. E porque não deveria amar você. Porque já ouvi o seu “não” de forma clara e constrangida, mas meu coração não teve sua compreensão. Este prefere crer no que vê em seus olhos e na entonação de sua voz. Nas lembranças dos gestos que insistem em ficar, embora eu os expulse de vez em quando.
Eu corri. Se em vão, não sei.
Quem dera poder correr para você.
Corri do meu amor, das minhas dores e da fraqueza que possuo em ainda te deixar aqui.
Pensei que pudesse, ao correr, fugir de você.
Hoje eu corri.
Corri até parar de pensar.
E você ainda está aqui.