“Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos.”
(Mia Couto – Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra)
Se ouvir o número de infectados, mortos, curados e vacinados o tem incomodado diariamente, como também a mim incomoda, eu lhe pergunto: qual foi a pior coisa que você já vivenciou nesta pandemia?
Concordo que assistir aos noticiários tem ficado cada vez pior, mas e o que vemos e ouvimos nas ruas?
A pior frase não foi a que ouvi, mas a que li por mensagem via WhatsApp:
– “Mãe, estou com Covid”.
E tudo que veio depois. Sabe o medo de perder a pessoa que você mais ama? Então…
Quando soube da notícia, meu filho já estava internado há dias. Querendo me poupar e acreditando que não seria nada de mais, decidiu me informar depois. E lá estava um jovem, de vinte e seis anos, tendo que enfrentar o medo da morte, na dificuldade inimaginável de respirar e andar.
Sim, senhoras e senhores, o meu filho, jovem e saudável, se sentiu à beira da morte.
E quantos mais?
Infelizmente, pior do que as notícias do Jornal Nacional, absolutamente próximas e reais são as que chegam de parentes e amigos, como li pelo Messenger hoje cedo de uma das minhas melhores amigas: “Minha filha está com Covid, seu marido fez o teste e meu neto, ainda não sabemos”. Ou semana passada, da filha de outra amiga: “Meu pai e minha mãe estão indo para a UTI”.
São muitos de nós perdendo o chão…. sem saber onde se escorar para permanecer de pé e muitas vezes tendo que cuidar dos outros. E se perdermos este chão apenas temporariamente, tudo bem. Mas e quem perde mais do que isso? Estou numa cidade pequena e todos os dias fico sabendo de conhecidos que adoeceram e outros que morreram.
Estou cansada da pandemia! Estou cansada de não poder sair de casa, estou cansada de não viajar, de não poder ir para uma balada ou um curso presencial, mas acima de tudo, estou cansada de ter o medo da morte: a minha, dos meus e dos outros!
Estou cansada das notícias, mas estou mais cansada da realidade que se apresenta, pela TV ou pelo boca a boca: os hospitais estão lotados, ainda não há vacina o suficiente e nem qualquer perspectiva de melhora.
O Brasil se tornou referência mundial por ter se tornado o epicentro da pandemia. E pasmem, senhoras e senhores, tem gente que ainda não acredita no estrago que o vírus vem causando e por isso, também somos obrigados a lidar com as notícias da falta de respeito: pessoas que não se importam e não cuidam de si e dos outros, médicos sendo agredidos e manifestações indo para frente de hospitais, como quem desdenha da realidade alheia.
Alheia? Uma hora a conta chega!
Não que eu deseje isso, mas estamos todos no mesmo barco!
Se você não ficar doente, é provável que alguém da sua família fique, um parente, um vizinho ou um amigo!
O crescimento do contágio é exponencial e está aí sendo esfregado na cara de todo mundo há um ano, com muitos desligando a TV por não ter mais argumentos para o próprio negacionismo, mas permanecendo cristalizados e indiferentes ao colapso dos sistemas de saúde e a devastação de quase 300.00 famílias brasileiras.
Deve ser difícil dizer qual foi a pior coisa que cada um vivenciou na pandemia, mas uma das frases mais marcantes para mim, vieram de um curitibano rico para o prefeito da cidade, antes de decretar o Lockdown: – “Tenho dinheiro para comprar dois hospitais, mas não tenho leito para minha mãe”.
Felizmente meu filho está aqui, ainda que lidando com as sequelas.
Para você que desliga a televisão, por achar que não está acontecendo nada de mais, sugiro também desligar os aplicativos, para alguém que você gosta não venha com a notícia, assim como veio para mim e tem vindo para muita gente:
– Eu estou com Covid!
Ou pior, quando se lembrar de tudo isso à espera de um leito ou oxigênio, como aconteceu com o ex-governador de Goiás, vindo lamentavelmente a falecer numa ambulância!
Não importa de que lado você está politicamente falando, isso simplesmente não deveria importar, quando falamos de vidas. Não importa se você é rico ou pobre, jovem ou velho, preto ou branco.
O negacionismo está caro demais! Paga-se com vidas, caos, brigas políticas intermináveis e dobra-se a dívida!
Sabe quem vai pagar essa conta?
Todos nós!
… e as próximas gerações!
2 Comments
Como não sentir medo ?
Estamos todos em muitos barcos enfrentando a mesma tempestade . Eu também já ouvi isto e tenho medo de ouvir de novo , ou mesmo de comunicar para os meus .
Momentos dificeis Stelinha… Deus abençoe a todos nós… um bj querida!