(…) “Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se….”
(Ode de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa)
Se a pandemia nos tirou o prumo, o chão e continua tirando, sabe-se lá Deus até quando, o Grupo MEGALOTROPIA[1] aproveitou a situação, decidindo ir mais a fundo e realizar uma pesquisa on-line documentando numa amostragem os impactos da pandemia na sociedade brasileira. A pesquisa está inscrita no III Congresso Mundial de Transdisciplinaridade que está acontecendo na modalidade virtual, e está sendo divulgada pelo CETRANS – Centro de Educação Transdisciplinar com publicações seriadas no seu grupo das redes sociais[2], nos seus aspectos mais relevantes.
Vale conferir e descobrir aspectos inusitados sobre nossas relações com as cidades onde habitamos!
Uma coisa é formarmos uma opinião decorrente do meio em que estamos inseridos e através dos meios de comunicação, mas outro, bem mais profundo, é visualizarmos a opinião do todo, que inclui diferentes meios e pessoas, trazendo uma visão mais ampla e enriquecida por diversas percepções.
A pesquisa atuou em meios urbanos e quis saber de que forma a pandemia estava afetando a vida das pessoas e o meio em volta delas.
Como a pandemia atinge com maior força os centros urbanos, já que o vírus se dissemina onde está o maior número de pessoas e com isso, seu impacto com Lock Downs e restrições também pode ser mais bem percebido pelos fechamentos dos grandes centros, é ali que se revelou o impacto da pesquisa. 130 pessoas participaram deste projeto, respondendo a várias questões sobre suas vidas no momento pandêmico.
Se de um lado houve o aumento do estresse, insegurança, ansiedade e incertezas, também ocorreu a surpresa de um novo olhar sobre as cidades que revelou tanto seus benefícios ainda não percebidos ou utilizados, quanto suas mazelas e deficiências. Foi unânime e perceptível a melhoria dos ecossistemas em todo o mundo, com o fechamento público e o público em casa.
Assim como se supôs e se previu no documentário “O mundo sem ninguém” de 2.009, agora aconteceu de verdade.
A poluição diminuiu, as florestas deram mostras de ressurgir, os animais visitaram as cidades se sentindo livres da ameaça que somos nós, seres humanos.
Por um lado, nos sentimos presos e isolados, por outro, a natureza finalmente ficou livre do que representamos para ela: uma ameaça constante.
Veja abaixo alguns breves depoimentos dos entrevistados:
“A cidade ficou por pelo menos três semanas bem deserta. O céu estava mais limpo pela falta da poluição, as ruas vazias, sem trânsito de veículos. Era uma São Paulo que nunca imaginaria viver.”
“Pude ir à praia à noite.”
“A cidade menos poluída e menos barulhenta, onde o bem-estar é mais relevante que o consumir. Viver as necessidades básicas com profundidade.”
“São Paulo está mais clara, mais iluminada, mais limpa e praticamente sem poluição.”
“Ver em frente à minha janela uma passarinha fazendo o ninho e tendo seus filhotinhos. Extraordinário!”
“Durante a pandemia, da janela do meu apartamento, admirei muito a cor do céu, límpido, azul, o magnífico entardecer … parece que o ser humano precisou ficar em casa para a natureza poder respirar melhor.”
O barulho das grandes cidades finalmente silenciou. O céu cinza deu lugar a um azul claro, pode-se ouvir o canto dos pássaros (há até quem ouviu sinos tocando, ao longe), ver a luz da lua e das estrelas.
Mas é algo que sempre esteve lá? Só a diminuição da poluição mudou tudo isso?
Não, melhorou de fato, mas a pandemia nos trouxe de volta a nós mesmos, em momentos forçados de introspecção e reflexão, nos obrigando a olhar para o que realmente importa na vida, o voltar-se para a natureza, para aquilo que somos.
O deixar de viver em ritmo frenético e automático, certamente foi uma oportunidade na vida de todas as pessoas, pelos instantes em que puderam se voltar para elas mesmas com um novo olhar, refletindo sobre o rumo de suas próprias vidas.
A natureza sabe o que faz e se entre o céu e a terra existem mais coisas do que pode sonhar nossa vã filosofia, gosto de acreditar que a pandemia veio para também nos direcionar de forma coletiva para algo totalmente novo e necessário, _ um modo de vida mais consciente, que pode transitar do individualismo para o coletivo e do egoísmo ao altruísmo, em busca da construção de uma igualdade social que só será possível com uma consciência grupal mais solidária e fraterna.
Há males que vem para bem. E apesar dos milhões de mortes em todo o planeta e que ainda, infelizmente, irão acontecer, estamos todos no mesmo caminho: da evolução!
Os sobreviventes que ficarão com a responsabilidade de um mundo novo, ainda que demore!
[1] Caso você tenha interesse neste documento solicite cópia em PDF via megalotropia@gmail.com
[2] https://www.facebook.com/groups/cetrans