Feliz dia dos namorados para quem sabe namorar e se namorar!
“Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda”
(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa In: ‘O Guardador de Rebanhos’)
Como se formam os casais de hoje, na era do WhatsApp, Tinder, Happn e tantos mais?
Ao mesmo tempo em que tem ficado cada vez mais fácil, rápido e eficiente encontrar alguém, para se conhecer e se relacionar, mais difícil tem se tornado aprofundar uma relação, que se inicie de forma digital.
Em questão de segundos, encontramos várias opções, aparentemente compatíveis, num determinado aplicativo e facilmente seguimos os pretendentes em redes sociais, recebemos seu número no Whatsapp e descobrimos sua vida em alguns cliques.
Só que com a mesma velocidade que isto acontece e os possíveis encontros, também ocorre o fim do que poderia ter sido o encontro de um grande amor.
Namorar de verdade tem se tornado difícil. Uma troca de frases aqui e ali, um ou dois encontros e logo o sonhado pretendente segue o jogo nos aplicativos com novos pretendentes, que nunca param de chegar. Os aplicativos viciam. Nos colocam como produtos num cardápio digital à disposição de milhares de desconhecidos, para uma rasa seleção e encontros possivelmente mais rasos ainda.
O pretendente é capaz de selecionar mais opções de pretendentes enquanto você vai ao toilette logo no primeiro encontro. E mesmo quando os encontros se desenvolvem, fica claro o vício da maioria. “Se consegui algo bom hoje, amanhã conseguirei também”.
É preciso muita maturidade e foco para se namorar na era do amor digital. Há quem entre nos aplicativos com esta ideia, mas se perde na quantidade e esquece do que se trata um relacionamento de qualidade: intimidade, cumplicidade, companheirismo, parceria, amor, sexo, paixão e sim: para todas as horas!
Me parece que uma grande parte dos usuários se esquece do quão bom é a tal da intimidade, que vai além da simples atração física, mas também o ombro amigo nos dias difíceis, uma companhia para viajar, alguém que lhe conhece pelo olhar e suspiro. Relacionamento que se constrói com o tempo de convivência e não com cliques.
As relações se tornaram líquidas, como o filósofo Zygmunt Bauman havia previsto em sua sensacional obra “Amores Líquidos” já no ano de 2003.
Amar se tornou raro. Hoje se gosta por alguns momentos e parte-se para outra em seguida, mesmo que isto signifique segundos.
Faz falta o velho flerte na praça, na escola ou na rua, os olhos nos olhos, os bilhetes escondidos, serenatas na janela, telefonemas! Sim: telefonemas. Quem diria que a ligação se tornaria ultrapassada e quase que inaceitável?
Para quem neste dia tiver um amor para chamar de seu e tiver a certeza de que continuará sendo pelas próximas semanas, lhe desejo o mais belo e feliz dia dos namorados.
Numa era volátil, confusa e cada vez menos consciente e desfocada, só desejo que o amor me encontre e lhe encontre. Se ao mesmo tempo em que ser amado pelos demais tem se tornado raro, certamente esta época também muito tem nos ensinado sobre o amor próprio. É tanto individualismo, que nos ensinou a amar a nós mesmos em primeiro lugar.
E como tudo tem seu lado bom, a construção do amor próprio nos permite compreender melhor o que é o amor e reconhecer um quando ele chega, seja por WhatsApp ou numa convivência diária com o bom “olhos nos olhos”.
Amor quando é de verdade acontece, seja por um esbarrão no meio da rua, aplicativo ou até pelos velhos bilhetinhos e cartas!
Namore sim, namore a si mesmo, a vida e alguém que seja compatível com aquilo que você acredita!
Para quem sabe namorar e principalmente, se namorar: aproveite seu amor e curta o seu dia dos namorados, como for!
2 Comments
belo texto
Obrigada, Mateus! Bem vindo!!!