Hoje eu acordei assim: com saudade de mim mesma. Dos risos que costumava ouvir a qualquer hora do dia, da distração ingênua e feliz, que fazia parte de quem eu era. Senti falta da alegria ignorante da juventude.
Levantei sentindo falta daquela leveza do não pensar a fundo em coisa nenhuma, de não saber o dia de amanhã e nem se importar com o que viria depois.
Pensei na graça em que certas coisas ainda tinham para mim. Nas baladas noite afora, na multidão de desconhecidos, numa paixão qualquer e em um copo de cerveja. De repente, tudo se foi.
Com a maturidade, a comunhão comigo mesma ficou plena, os erros do passado se foram, mas com tantas transformações, outras coisas se foram também. As ilusões de outrora e a superficialidade dos momentos já não satisfazem mais.
Nem sei se queria tantas mudanças assim. O saber veio com lucidez e verdades claras. Porém a vida, às vezes, parece ter mais graça sem o conhecimento dela mesma.
Aprende-se a resiliência, paciência, tolerância e por fim aceitamos tudo. Chega o entendimento do verdadeiro amor. Nos tornamos fortes como o que, imbatíveis, mais sozinhos e distantes da maioria.
Quem dera, pudesse fazer parte da maioria de vez em quando. Voltar a ignorância e o deslumbre com qualquer coisa.
Na elevação de consciência não há retorno. O tempo e a vida, em prol de um bem maior, fazem este caminho irreversível. Uma vez lá, não se volta. Perde-se o encaixe, as afinidades que um dia pareceram eternas.
Torna-se uma fortaleza que nunca se sonhara ser, aprende-se mais do que se supunha e segue-se o caminho que parece certo. A cada dia mais estreito, poucos são os que seguem ao meu lado, às vezes tem gente, outros dias ninguém.
Apesar de certas perdas, não me arrependo, o medo não se faz presente. Sinto orgulho de quem me tornei, mas a força e o crescer também cobram seu preço. Como tudo na vida, ganha-se de um lado, perde-se de outro. Nada é cem por cento bom, como nem tudo é cem por cento ruim.
E hoje eu senti falta de mim. De uma mente inconsciente, de só mais um dia, só mais um riso, mais um erro, uma dúvida e uma decepção. Um atrevimento qualquer. Um ato desmedido.
Senti falta do riso fácil e sem sentido, dos excessos, da intensidade sem juízo. Dos erros inconsequentes. Do desconhecer a seriedade da vida, de sua força somada às regras inventadas por nós mesmos.
Senti saudade de tudo o que um dia fui. E mesmo com toda a ignorância de outrora, desejei, por um momento, me visitar no passado. Admiraria meu sorriso e a felicidade de viver sem nada a perder: cometendo um erro aqui e outro ali, sem saber algum, mas com todos os sentimentos da vida, como se a mesma coubesse em um único instante.
De alguma maneira, sei que o que um dia fui, em algum tempo retornará, através de um saber, que simplesmente ainda não chegou. Com uma alegria sem motivo, que não precise de sentido e permissão. O equilíbrio há de chegar. E a alegria também.
E lá, seja quando for, me encontrarei outra vez.