Quantos de nós aprendemos a palavra ética lá atrás, em “Educação Moral e Cívica”, na quarta ou quinta série do ano escolar? Desde criança estudamos e aprendemos algo, que deveria ser entendido na prática, pelo exemplo de todos os que nos cercam. Mas na mesma prática, a sociedade acaba funcionando de forma muito mais antiética do que o normal e suportável. Especialmente para pessoas, que supostamente não precisam ser ensinadas a isso.
Há não muito tempo atrás, fui convidada a participar de um curso, no qual parte dele tinha a intenção de fazer com que as pessoas aprendessem a se colocar no lugar das outras. Quando me dei conta disso, senti um choque e decepção tão intensos, que automaticamente me levaram a profundas reflexões. Desde criança eu sabia me colocar no lugar do outro, creio que desde a minha amizade com uma menininha negra que sofria preconceito na escola, e consequentemente eu, por ser amiga dela. Eu não entendia porque alguém precisaria de um curso para entender a dor do outro. Depois repensei a sociedade em que vivemos e fiquei feliz que hoje existam cursos que tentem ensinar algo tão essencial às pessoas.
Muitas pessoas parecem saber o que é certo, de nascença, mesmo sem terem aprendido na escola ou em casa com os pais. E outras, não importam o quanto exemplos venham a ter, agem errado e de acordo apenas com o que lhes convém.
Habitamos uma sociedade de semelhanças e diferenças. Apesar de sermos todos iguais como seres humanos, diferimos em nossos comportamentos, culturas e crenças. E certamente para os que são corretos, moral e eticamente falando, conviver com práticas incorretas e antiéticas tem sido uma tortura e guerra psicológica diária. Haja vista a nossa política brasileira como exemplo mundial de corrupção e de ausência de ética.
Uma pessoa próxima a mim sofreu um grave Burnout há alguns anos. Trabalhando numa instituição pública e sendo extremamente correto e trabalhador, foi perseguido por pessoas que não aceitavam o seu esforço em melhorar a instituição e consequentemente se sobressair em seu trabalho. Dentro de tal instituição as relações falavam mais alto do que a ética praticada no local. Em lugares onde as relações políticas estão acima do que é correto impera a corrupção, seja num nível financeiro ou de interesses. Ganha quem conhece e se relaciona com os mais importantes, causando injustiça para quem é honesto e trabalha de acordo com as regras. Meu conhecido não suportou a dor de ser uma pessoa correta num ambiente, aonde regras escusas e silenciosas vinham em primeiro lugar.
Fato é que muitas empresas, organizações e instituições se fazem hoje em primeiro lugar de relações políticas e não mais de resultados e esforços profissionais. O “quem indica” e o “com quem você se relaciona” está acima do quanto alguém se dedicou ou rendeu profissionalmente. A politicagem está tomando o lugar do profissionalismo e verdadeira dedicação, fazendo uma verdadeira lavagem cerebral em pessoas corretas sobre o que vale a pena na vida. Está se tornando cada vez mais difícil manter os nossos valores, quando tantos de nós passam a maior parte da vida convivendo com valores distorcidos e fora da ética que aprendemos na escola.
Alguns anos se passaram e meu conhecido voltou a trabalhar na tal instituição, porém em outro departamento, mas ainda em contato com as pessoas que lhe prejudicaram a saúde física e mental. Agora doutorando, meu conhecido está no mesmo nível das outras e de certa forma protegido da falta de ética de uns e outros. Recentemente foi acusado de ter disseminado seu bom comportamento em seus subordinados. Eu fiquei muito feliz e lhe disse: “Este é o verdadeiro significado de ser luz. Viver corretamente num lugar onde não se pratica o que é correto, manter os valores intocáveis e ainda assim disseminá-los com o seu exemplo”.
Meu conhecido pareceu receber essas palavras na alma. E eu fiquei feliz de ter alguém ao meu lado, que mediante tanta falta de ética, ainda foi capaz de manter a sua e expandi-la num lugar onde a mesma é não é bem vinda pela maioria.
Somos poucos, mas ainda assim devemos ser fortes e mantermos os nossos valores. É dolorido viver numa sociedade onde a antiética aparece em vários lugares e no comportamento de tantas pessoas, mas se não mantivermos a nossa, seremos também responsáveis por uma sociedade totalmente injusta e indigna de se viver.
Ética é viver se colocando no lugar do outro sempre, agindo de acordo com o que é bom pra mim, para o outro e para a sociedade como um todo. Isto vai desde o não furar a fila do banco até o que eu faço quando não tem ninguém olhando. O não tirar vantagem nas pequenas coisas influencia o político lá em cima, que tira vantagem em tudo, aumentando a miséria e imoralidade do país.
O meu comportamento influencia o que está no poder e vice-versa. Somos todos responsáveis de um jeito ou de outro, em maior ou menor grau. Mas somos. Por mais que nos doa e nos pareça injusto.
Ser ético virou uma guerra diária, e que necessita de guerreiros. Ainda que sejamos poucos e estejamos fracos.
Antes uma luta diária, do que o fracasso de viver em uma sociedade antiética e arrogante política dos que se escondem por trás de grandes ou pequenos poderes.
“Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham Lincoln.
A nós nos restou retirar o poder daqueles que se perdem com o mesmo e levam tantos de nós ladeira abaixo.
Que Deus nos dê força e tenha piedade de nós!
https://youtu.be/M8l8AUiqWIM