Recentemente, em resposta à uma de minhas matérias publicadas na internet, uma amiga comentou algo que me tocou profundamente. Ela escreveu: “Talvez o melhor exemplo seja ser feliz!”. E ela acariciou minha alma.
Ser alvo de críticas e não aceitação às vezes machuca. Apesar de toda minha segurança, autoestima e do já entendimento e respeito sobre a diversidade de pessoas, sei que o caminho contrário nem sempre é recíproco. Por isso, não tento agradar ninguém. Faço o que sinto vontade, de acordo com o que acredito.
Afinal, ainda que fizesse o que os outros querem, também erraria em algum momento e seria criticada de alguma forma. Então, antes ser feliz do meu jeito, do que infeliz do jeito dos outros.
Mas a frase da minha amiga veio tanto a calhar, que ela nem sabe, mas me cicatrizou uma ferida na alma. Mãe tão jovem que fui, muitas vezes me questiono sobre meus possíveis erros. Na ânsia de um reconhecimento qualquer.
Se este for mesmo o melhor exemplo, tiro de meus ombros um pouco do peso de não ter sabido o que fazer por tantas vezes: a falta de palavras, a falta de respostas e talvez até a falta de atitude na hora certa. Eu sei que não fui para alguns o que esperavam que eu fosse, fui diferente. Mas quase sempre fui feliz. Nunca fui grande coisa, nem fiz nada importante, mas desde cedo aprendi a ser feliz sozinha.
Nunca havia entendido a adolescência ser considerada a fase da rabugice, uma vez que a minha, apesar de ter sido curta, foi uma fase de diversão e alegria. Eu soube mesmo aproveitar os momentos. Me lembro da piscina e até consigo sentir seu cheiro…, os tantos quilômetros de corrida, os rios e cachoeiras… Me lembro das festas, dos namoros e dos tantos amigos. Eu acho que não fui fácil: para meus pais e professores. Bagunceira desde a quarta série, sempre provocava alvoroço.
Com a maternidade prematura vieram algumas dificuldades, mas ainda assim encontrei outras formas de perpetuar minha felicidade: na própria maternidade, no estudo e depois no trabalho. Seria uma mentira dizer que não tive problemas e momentos de tristeza. Mas nesta nova fase, novos amigos vieram, e as descobertas filosóficas sobre a vida. De outra forma eu reencontrei a felicidade.
Bem mais tarde houve um longo período em que não afirmo ter sido feliz: os seis anos em que morei na Alemanha. Em vão tentei me adaptar àquela vida e cultura. Me perdi de mim mesma como nunca antes. Mas uma vez de volta ao Brasil e à minha pessoa, novamente encontrei prazer: num novo trabalho, nos novos amigos e nos novos estudos. Além dos deliciosos momentos que a vida proporciona: uma balada, a descontração de um encontro a dois ou com vários amigos.
Descobri a minha maior felicidade aos trinta e seis anos de idade, quando me descobri escritora, além de um ser especial e incomum. Através das minhas palavras escritas, passei a expressar uma infinidade de sentimentos que não cabiam mais em mim, aliviando a alma do peso de minha própria intensidade.
Eu nunca fui exemplo para nada. Não fui a melhor aluna. E não fui da turma da “boa moral e dos bons costumes”. Avessa ao que considero hipocrisia, fui muito mais da turma “do contra”.
Mas agora eu finalmente entendi. Sou exemplo de felicidade sim. Posso até não estar fazendo algo direito, mas ainda assim encontrei o caminho que todos procuram. E isso não significa que devam fazer nada igual a mim. Mas dentro da minha trajetória, da vida que é só minha, eu encontrei o meu jeito certo de fazer as coisas. E como escreveu minha amiga sabiamente: “Talvez ser feliz seja o melhor exemplo!”.