Caminhando no parque contra a luz do sol, eu tentava enxergar a paisagem linda que se fazia com aqueles raios de fim de tarde. Brigava com meus pensamentos, ao mesmo tempo em que tentava absorver toda a beleza do momento. E assim como meus pensamentos não concluíam algo mais adiante, também meus olhos não eram capazes de enxergar contra tanta luz.
Minha visão turva naquele instante me ajudou a perceber a naturalidade de alguns momentos que também nos chegam de forma ofuscada.
Certa vez conversando com meu filho, ele me disse: “Eu não tenho uma boa estratégia de vida, não sei o que fazer”. Eu disse a ele que também não havia aprendido a ter uma estratégia pessoal desde cedo, e que fui aprendendo com o passar dos anos e as dores em meu caminho, a traçar alguns planos para minha vida. E um bom plano na hora da dúvida era riscar da lista ao menos o que não queria para mim. A regra da eliminação era um bom suporte em meus dias mais imaturos.
Há um bom tempo também entendi que nem sempre a vida segue como planejamos. É boa lição fazermos a nossa parte: estudamos, trabalhamos e buscamos entender a nós mesmos, para a realização daquilo que nos torna felizes. Seja a situação financeira, amorosa ou familiar. Autoconhecimento: cada um busca compreender como e onde a felicidade lhe atinge.
Mas a boa verdade é que a vida não é traçada apenas pelos nossos desejos, planos ou estratégias. Existem as voltas que a vida dá, as quais ninguém pode prever ou controlar. Como uma tempestade repentina, muitas vezes algo acontece que nos muda por dentro e por fora. Um furacão que passa de repente e transforma tudo: um amor, um trabalho, uma amizade, um acidente, a perda de um ente querido e tantas coisas mais.
Recentemente mudei minha vida. Um novo trabalho, novas pessoas, nova rotina e a busca por uma nova moradia. O adeus à zona de conforto deu lugar aos novos desafios, com todos os medos que isso possa representar. E então, caminhando no parque e tentando enxergar contra a luz do sol, entendi que algumas mudanças, mesmo que não tenham sido planejadas ou sequer sonhadas, também têm a beleza daquilo que não se pode ver.
A vida pode vir a ser uma eterna mesmice para quem se recusa a sair de sua zona de conforto. Como pode vir a ser uma divertida montanha russa a quem encara os desafios com o mesmo olhar que tentamos enxergar uma paisagem contra a luz do sol. Por mais difícil que seja ver ou entender o que se está à frente, a beleza por trás da dificuldade nos atrai de forma sublime para a inexplicável fé que nos move sempre para frente.
Por que no fim das contas, tudo na vida é uma questão de medida e equilíbrio. Fazemos nossa parte, construímos planos e estratégias para a realização de nossos sonhos. Mas ao mesmo tempo aceitamos quando a Senhora Vida chega e impõe tudo de outra forma.
Não somos totalmente donos de nossos destinos, mas somos os dançarinos neste palco chamado vida. E se a luz do sol em algum momento nos ofuscar, saibamos ver a beleza que existe na incerteza do dia seguinte.
Que o ofuscar da vida se torne apenas um momento de fé, tão bonito quanto o fim de tarde de um dia qualquer.