Fui tia a primeira vez ainda bem jovem. E desde então achei o máximo ter um serzinho menor do que eu para cuidar. Conforme o tempo foi passando, eles foram chegando. Hoje eles são sete: cinco meninas e dois meninos. São seis adolescentes e uma criança. Amo! São escancaradamente meus preferidos na família. Fato é que vi eles nascerem, crescerem e hoje bagunçamos juntos. Putz… demorou… Não vi a hora de ter membros na família que finalmente me acompanhassem nesse intento.
Há uns dez anos atrás ensinei todos eles a jogar WAR. Melhor dizendo, foi uma cria completa pra me acompanhar no vício. Impossível dizer quantos jogos foram, quantas brigas, quantas histórias, quantas lembranças. Só sei que no tempo em que eu morava na Alemanha, de um lado do mundo, eu esperava o ano inteiro por aquelas partidas intermináveis regadas a pipoca e Coca-Cola. Bom era, que do outro lado do oceano o desejo era recíproco, não de um, mas de seis.
Noites intermináveis, de gritos e risadas, que meus pais até reclamavam, pois não conseguiam dormir. Mas ao mesmo tempo, sei que se satisfaziam com a casa cheia. Membros da família que se amavam de forma louca e barulhenta noite afora. Quantas partidas foram, eu não sei. Mas sinto saudades. E antes senti tanto que cheguei a chorar algumas vezes. É… Saudade dói.
Já faz tempo que não jogamos WAR. Da última vez que tentamos não havia dados, apesar de ter uns quatro jogos do mesmo na família, todos estão surrados, mais que usados e faltando peças. Fomos de truco mesmo.
Fato é que o tempo passou. Os interesses mudaram e veio a fatídica fase do amor, sedução e porque não dizer, do sexo? Amei ter sido a tia que pôde tirar todas as dúvidas, das mais bobas às mais nebulosas. Aquele momento da vida em que não se tem coragem de perguntar aos pais, e então procuramos alguém de quem gostamos e confiamos. Pra mim, prova de amor e confiança ter feito este papel. Honra e privilégio.
Ainda sinto saudades dessas tranqueiras, pois todos moram, contra minha vontade, longe de mim. Felizmente a tecnologia me permite tão boa aproximação, que quase sinto eles aqui, ao meu lado. Outro dia, às cinco horas da manhã, eu simplesmente não conseguia dormir, estava sendo uma semana difícil. Entrei no Facebook e estavam lá, dois membros do clã Vila Nova. Se insônia é chata e me incomoda, naquela madrugada virou farra. Uma xingando a outra carinhosamente e abrindo seus corações virtualmente da forma mais honesta possível: com amor, confiança e risadas.
Dos meus sobrinhos tenho amor, admiração, respeito. Senão de todos, da maioria. Sentimentos recíprocos que me fazem valer uma vida toda. Quando crianças, judiei. Fiz cócegas, brinquei, briguei, fui na piscina, no shopping, na praia e tanto mais. Agora bebemos juntos, caímos juntos, dançamos e nos redescobrimos em fases diferentes. Mas com o mesmo amor, a mesma reciprocidade e sintonia.
Talvez meus irmãos não gostem tanto de toda bagunça que faço com eles. Entendo. Mas também sou obrigada a dizer: meus sobrinhos são meus e não abro mão. Em algumas coisas, são mais meus do que deles. E disso abro mão menos ainda.
Unidos num amor que não tem e dispensa explicações, temos vários jargões, várias histórias pra contar. Posso me ver claramente um dia, bem velhinha, com todos eles à minha volta, rindo e tirando sarro da tia que tanto aprontou com eles. Haverá lembranças mais doces do que essas? Não sei. E curto desde já.
Uma vez, uma das sobrinhas disse que praticamente tinha pesadelos com a frase “3 seu!”, que gritamos no jogo WAR, quando ganhamos todos os dados. Isso foi tão engraçado, que desde então temos um prazer à parte ao afirmar a vitória nos números. Mas eu queria oficialmente dizer aos sete, que onde quer que vocês vão, em tantas novas fases que ainda hão de viver, estarei com vocês, porque vocês estão em mim. Desde que nasceram. E pro resto da vida poderei dizer com o maior orgulho: “3 seu!”. Mas 7 meus!
Amo vocês, cambada!