“Coringa” é praticamente o herói da loucura coletiva que vivemos!
O filme Coringa chama a atenção por inúmeros aspectos. A fotografia, trilha sonora e seus efeitos áudio visuais são impecáveis. O som intenso faz os passos de “Coringa” pesarem bem mais do que os míseros quilos que Joaquin Phoenix teve que atingir para encenar o personagem.
– Acho que Joaquin nem precisava ter emagrecido tanto, considerando a atuação que fez – disse um amigo que trabalha com cinema.
– Eu creio que sim, pois o “Coringa” representa supostamente tudo o que o ser humano não quer ser: feio, pobre, sem graça, tímido, miserável e portador de doenças psiquiátricas. Sua magreza representa a falta – comentei.
“Feliz” ou “Coringa” é uma pessoa excluída, por não ter nada que chame a atenção. E justamente por ser o contrário, passa por extrema dificuldade para conseguir o que quer que seja, como o mínimo de educação. “Feliz” apanha, é sabotado, não é visto, é desprezado. Em um dado momento, deixa de receber os remédios psiquiátricos de que precisa.
Inicialmente, “Feliz” é uma pessoa comum, um homem bom e até mesmo inocente. Seus problemas de depressão e ansiedade representam os milhões de nós mesmos, que estamos aí, tentando sobreviver à loucura de nosso mundo, à superficialidade, arrogância, consumismo, status e tantas outras doenças que ninguém vê.
Com o passar do tempo, “Feliz” se transforma, cansa de ser humilhado. Ele não nasceu mau, mas se torna vingativo e absolutamente verdadeiro. E isso é o que chama a atenção, quer se perceba de forma consciente ou não. Torcemos por ele, porque ele representa as nossas próprias dores, faltas e humilhações.
Quem de nós jamais desejou se vingar de quem humilha? Do rico que se gaba? Do intelectual que usa de seu conhecimento para ridicularizar os demais? Do bonito que usa de sua beleza para tirar vantagens que outros jamais terão, mesmo tendo mais mérito?
“Coringa” é um herói, quando decide responder a sociedade e a todos que o cercam o que ele está vivendo. Ele vem nos jogar na cara o quanto os cidadãos precisam urgentemente parar de ignorar os menos favorecidos. O quanto devemos reajustar nossos valores de educação, gentileza e parar de favorecer os que humilham e crescem pisando em quem quer que seja, só porque tem dinheiro ou poder. Precisamos parar de nos fazer de cegos.
Inúmeras são as reflexões de “Coringa”, como o refletir sobre quem somos no dia-a-dia, capaz de despertar o “Coringa” no próximo. Será que eu mesmo uso da minha posição para humilhar algum “Feliz” por aí? Ou do meu intelecto, posição social ou aparência? Sou capaz de machucar o próximo, como “Feliz” foi ferido do início ao fim de sua história?
Quantas vezes, uma suposta piadinha não foi capaz de machucar alguém, como o comentário do apresentador de Tv feito por Robert de Niro? Ou quantas vezes nos portamos como os garotos que roubam a placa do palhaço para rir um pouco? Não fomos jamais os jovens que batem em “Feliz” no metrô? Quem somos nós na história de “Feliz” até que ele se transforme no vingativo “Coringa”?
“Coringa” é um filme imperdível porque possui lições de extrema urgência.
“Feliz” deixa de existir para dar vida ao “Coringa” porque desistiu de seguir o caminho correto que todos aprendemos em casa ou na escola. Quando na vida real, no mundo profissional e sobrevivência, quem segue o caminho correto nem sempre é reconhecido. “Coringa” é um baita de um tapa na cara, por representar as nossas maiores dores de forma tão verdadeira.
Não temos que nos transformar em “Coringas”, mas em pessoas verdadeiras e humanas que apoiam os milhares de “Felizes” por aí, para que jamais se despertem seus “Coringas”.
Seja no próximo ou em nós mesmos.