Troquei de roupa no estacionamento mesmo. De mãos livres e roupa apropriada fui à minha sequência de exercícios.
Começando pela meia hora na esteira, senti o cheiro de cloro da piscina me chamando para algo que realmente gosto: natação, o deslizar o corpo sob a água por vários e vários metros me sentindo envolvida por aquela sensação que só a imersão trás, além do especial silêncio que se obtém com o ouvido semi imerso. Adoro essa sensação corporal e mental que só uma piscina trás.
Mas por motivos de saúde e estética, lá estava eu incomodada comigo mesma, me questionando sobre o porquê da minha falta de motivação para o que estava fazendo. O lugar estava lotado, como qualquer outro local do gênero após as sete horas da noite. Esperaria de verdade que esses locais tivessem um limite máximo estabelecido de pessoas por metro quadrado, o que não me parece realmente existir.
Apesar do cansaço físico, lá estava minha mente a toda, como quase sempre, à frente da minha energia física, uma vez que “ela”, minha mente, quase nunca para. Tentando arduamente entender minha desmotivação e me auto motivar de alguma maneira, buscava em volta daquele lugar as razões para meu estado. Também busquei em minha própria mente e limitações os possíveis motivos para estranho desânimo.
Não jogando a culpa no resultado das minhas constatações, cito aqui alguns pontos observados: a quantidade de homens nesta e em outras academias que visitei é bem superior ao número de mulheres. O cheiro de suor masculino impera no ar, além do som dos sempre fortes e altos cumprimentos entre os membros da espécie. Vários homens fazem seus exercícios gemendo como se estivessem tendo orgasmos bombásticos, se olham no espelho, orgulhosos de alguns ou muitos músculos adquiridos em seus treinos e desfilam entre as mulheres como se fossem pavões em seus territórios.
Nada contra os homens, muito pelo contrário, mas confesso que neste contexto senti que aquele era realmente o território deles. Se num salão de beleza impera o cheiro de esmalte, produtos para cabelo e depilação, além daqueles assuntos todos femininos, tive a sensação de que as academias nos horários noturnos refletem exatamente o contrário: testosterona no ar, tanto no cheiro, quanto no som e nos movimentos.
E a natureza masculina, muito diferente da feminina, costuma ser bastante pretensiosa em relação a si mesma, uma vez que num país machista como o nosso, as próprias mulheres educam seus filhos, irmãos, pais e maridos para tal pretensão. Mães não ensinam seus filhos a cuidarem da casa e de si mesmos como fazem com suas filhas; irmãs costumam servir seus pais e irmãos numa posição de inferioridade ou submissão, além das esposas que até orgasmos fingem para satisfazer o ego masculino de seus amados. Infelizmente ainda há muito a se evoluir neste sentido. Resultado: os homens costumam exigir demais das mulheres ao seu redor, enquanto que elas exigem menos dos mesmos.
Mulheres que estudam, trabalham, são mães e donas de casa ao mesmo tempo, e que também se sentem obrigadas a se preocuparem com o peso, tamanho dos seios, o nível de alisamento do cabelo, o tom de tinta em seus cabelos e até a tonicidade de suas peles. Tudo para agradar uma exigência masculina que nós mesmas permitimos que chegasse à este ponto. Na verdade ponto a menos para nossa espécie.
Não culparei aqui, a minha falta de motivação, o gênero que tanto aprecio em outros contextos. Mas também devo confessar que não apreciei muito o território exalado de testosterona. Tive a sensação de que estava num desfile da espécie, quase que assistindo uma dança do acasalamento, para ver quem ganhava a disputa de músculos e força.
Que competitividade é uma característica primeiramente masculina eu sempre soube, mas me parece imatura e estranha a competição por tamanho e poder em levantamento de peso. Me incomoda profundamente o intenso culto ao corpo, enquanto a espécie tem deixado tanto a desejar em outros quesitos. O mesmo acontece com membros da minha espécie, estou ciente do fato, mas estar presente neste território masculino é como ser obrigada a conviver com a falta de intelecto e o excesso de superficialidade.
De certa forma se uma mulher se exalta por ser bonita, ela não deixa de ter razão, uma vez que a maioria dos homens escolhem as mulheres por características físicas, mais do que intelectuais ou outras quaisquer. Porém, sabemos que a maioria das mulheres não escolhem os homens da mesma forma. Aí está a contrariedade entre um homem exaltar o próprio corpo em comparação com a mesma atitude feminina.
Enfim. Da mesma forma que um ambiente de salão de beleza deve incomodar alguns homens, foi assim que me senti ontem à noite; simplesmente incomodada. Nada demais. Terei que me adaptar ao cheiro e suor constante da quantidade a mais de homens no recinto, além de seus sons altos, sejam nos cumprimentos entre eles, sejam nos gemidos durante os exercícios.
Fazer o que? Nessa vida é tudo uma questão de jogo de cintura. Se não se pode vencê-los, então junte-se à eles. E dá-lhe espinafre! Ups! Proteína…