Após quase um mês no novo trabalho e dois quilos a menos, dezenas de reflexões e sensações. Ainda sinto a dor da partida da minha velha vida: os amigos que ficaram para trás, ainda que estejam em mim. Sonhei duas vezes com meu antigo trabalho. Meus colegas passavam diante de meus olhos como uma banda passa na rua. Eles andavam e dançavam desordenadamente seguindo uma música. Poucos paravam para falar comigo. A situação era nítida: a festa de alegria e amizade que existia naquela empresa continuava, mas agora sem mim. E eu era obrigada a apenas assistir a festa passar. O sonho foi bonito e me provocou boa sensação, mas ao mesmo tempo escancarava algo que me martirizava por dentro. Eu não faria mais parte daquele grupo de pessoas. E dizer adeus era algo que doía tanto, que eu mal demonstrava. Era mais fácil assim.
O novo mundo ao que acabo de entrar também está cheio de pessoas alegres. E embora sejam alemães, parece que a maioria já está no ritmo de festa brasileiro. Me senti bem-vinda em todos os momentos. Mas também me senti em pânico nas duas primeiras semanas. Será mesmo que ia dar conta de tantas coisas novas? Me pareceu difícil. Na terceira semana percebi que daria conta, mas tinha que lidar com algo novo em mim mesma, que quase nunca havia visto antes. Uma Carolina insegura e com baixa autoestima. Sabia que isso não tinha nada a ver com a minha personalidade. Seriam resquícios de alguns traumas vivenciados na Alemanha? Acredito que sim. O poder de nosso inconsciente está além de nosso entendimento consciente.
As novidades da minha nova vida não se limitaram ao meu novo trabalho, mas a uma nova mim mesma. Ser arrancada de um mundo e inserida em outro totalmente novo, provocou mudanças drásticas naquilo que sou internamente. Eu me vi cheia de ansiedade, medos, mas com uma esperança nova, que também desconhecia.
Ontem sonhei que visitava casas junto com meu filho. Todas elas tinham árvores e água: ou em piscina ou em lago. O sonho era claro. Se os dias atuais e difíceis me davam medo, eles também indicavam um caminho para um lugar melhor. Não seria este o sentido da evolução? Nada evolui sem dor e rompimento. Saímos de um lugar para outro, sem saber como será em seguida.
Apesar de nunca ter havido dúvidas sobre a escolha da minha nova vida, sempre houve a dor pelo rompimento da vida velha. Entendi que a arte do desapego também se estende às pessoas, nas afinidades e nos risos do dia-a-dia. E embora essas pessoas estejam lá, no ponto onde as deixamos, dói saber que não as teremos mais no contexto das nossas humildes vinte e quatro horas.
Na minha vida nova já tem gente que eu gosto muito e admiro. Já tem presente e futuro. Nesta vida estou tendo que procurar um lugar novo pra morar. Válvulas de escape para lidar melhor com as mudanças. E relacionamentos fortes para me fazer suportar a dor dos que ficaram no passado. Porque ainda que essas pessoas estejam lá, a banda delas não passa mais na minha rua.
Não é fácil mudar de vida. Nunca há a certeza de que será mesmo melhor. Mas eu percebi que de todas as dores e dificuldades, a maior delas é a que se carrega por dentro. A mudança que ocorre em nós mesmos, revirando e tirando tudo do lugar: as lembranças, os sentimentos, os medos e desejos. A saudade que fica misturada ao desejo do novo.
Se eu pudesse viveria as minhas duas vidas, a velha e a nova. Mas se não houvesse o abrir mão da velha, eu não seria merecedora da nova. Na vida, tudo tem seu preço. E entre um passo e outro, tudo o que eu espero é encontrar um tantinho de felicidade e sorriso. Em cada lugar que eu passar!