“O experimento de Milgram” foi um experimento científico, desenvolvido pelo psicólogo Stanley Milgram no início do ano de 1961, tornando-se referência em estudo, análise e crítica sobre o comportamento humano, no que diz respeito à obediência. Além de ter se tornado filme em 2015.
De origem judaica, o professor de psicologia queria entender, como pessoas de todo um país criaram a maior guerra da história, seguindo ordens que eram contra os princípios morais e individuais que a maioria das pessoas já carregava. Como teria sido possível, através de poucos governantes, transformar quase que todo um exército em obedientes nazistas e uma nação, em sua maioria, em coniventes ou passivos?
O experimento consistia em fazer com que o voluntário acreditasse, que daria choques elétricos em outro voluntário (que não era de verdade um voluntário, mas participante do experimento), a cada vez que o mesmo errasse uma palavra, que ele deveria ter memorizado, após uma leitura inicial de vários conjuntos de palavras. Os voluntários ficavam em diferentes salas.
A cada erro, a voltagem do choque aumentava. O falso voluntário concordava com o experimento, que era remunerado aos voluntários reais. A partir de certa voltagem dos choques, o falso voluntário, falsamente começava a gritar e pedia que parassem o experimento. O voluntário verdadeiro, na maioria das vezes, ficava propenso a desistir do experimento, mas continuava, quando pesquisadores do experimento afirmavam que ele (a) deveria continuar. O falso choque elétrico iniciava com 15 e ia até 450 volts. O único choque real do experimento era o que o voluntário recebia, de 45 volts, para ter uma ideia do que o suposto voluntário estaria sentindo, conforme ele errasse as palavras.
Para surpresa do próprio pesquisador, contrariando suas expectativas, 65% das pessoas continuaram o experimento, aplicando supostos choques no falso voluntário até que o mesmo chegasse a 450 volts. E todos chegaram até pelo menos 300 volts.
O que ficou constatado através deste experimento foi a perda de princípios morais e individuais, mediante uma situação de autoridade. Ninguém era realmente obrigado a continuar o experimento, mas conforme os supostos pesquisadores afirmavam que eles deveriam continuar, a grande maioria dos voluntários continuou a aplicar os choques, embora o falso voluntário gritasse de dor e depois de um tempo ficasse em silêncio absoluto, indicando que poderia ter desmaiado ou algo pior. Nenhum dos voluntários tentou checar se o falso voluntário havia desmaiado ou não.
Após o término do experimento, todos eram informados sobre a realidade dos fatos.
Em outro estudo paralelo, Milgram estudou o comportamento do indivíduo em grupo. Colocava um voluntário verdadeiro junto com quatro voluntários falsos, que mediante perguntas simples, se sentia compelido a responder erroneamente, conforme o grupo, mostrando o quanto o ser humano é suscetível a mudar sua opinião e mesmo seus princípios, quando em um determinado grupo de pessoas.
Os experimentos de Milgram são reconhecidos até hoje e sempre vem à tona em discussões, quando um grupo de poucas pessoas se torna responsável por algo desumano, com a obediência da maioria, como em uma guerra ou situações extremas na sociedade.
Recentemente, um vídeo real na internet mostrava crianças praticando bullyng com uma criança negra num parque da Espanha. As cerca de cinco crianças não permitiam que a criança negra subisse num escorregador, mesmo com a presença de sua mãe, também negra. Apenas uma mãe dentre todas daquelas crianças, chamou a atenção de seu filho. Após um tempo, a mãe da criança negra levou seu filho para outro brinquedo afastado. Uma das crianças brancas, não satisfeita, se aproximou e ficou dizendo em voz alta para a criança negra, que ela não era branca. Enquanto isso, as outras crianças ficavam atrás da menina que praticava o bullyng, a apoiando de maneira mais discreta.
O experimento de Milgram possui extrema importância para o mundo atual, uma vez que suas conclusões não são pertinentes apenas a uma situação de guerra. Ficou constatada a alienação das pessoas sobre si mesmas, quando em posição inferior ao que executa uma ação, ou quando em uma situação em que um grupo de pessoas age em conjunto. Podemos ser influenciados negativamente, devido a própria alienação, quando expostos à uma situação de autoridade, que não necessariamente de um governante ou soldado, mas de um policial, um professor, um político, um executivo, dentre outros.
No caso das crianças no parque da Espanha, ficou claro não apenas o preconceito, mas a conivência das outras crianças e das mães, ao que todos sabem ser errado: tanto o bullyng, quanto o preconceito racial.
Não são apenas crianças que sofrem bullyng e perseguição na escola. O mesmo ocorre nas universidades com os jovens, ou numa academia de ginástica. E com os adultos no mundo profissional, seja qual ramo for. Todo meio, passível de um maior número de pessoas, também o pode ser em relação ao abuso de autoridade ou através do poder de influência de uma ou mais pessoas num determinado grupo.
Todos podemos nos tornar coniventes, quando num grupo existe um influenciador manipulador. Cabe ao ser humano, adquirir um nível de consciência, que o torne capaz de ser mais pensante, quando em convivência com outros. Todos estamos sujeitos a sermos cordeiros, quando um lobo está no poder, seja ele um vizinho, um chefe, um amigo ou até mesmo uma inocente criança brincando num parquinho.
A lealdade em excesso a um amigo, superior ou autoridade pode vir a ser prejudicial em qualquer âmbito. Por isso, vale muito mais se recorrer aos princípios morais e individuais que se possui, do que seguir a cabeça e direcionamento de alguém, quando em caso de dúvidas ou somente para agradar uma pessoa. Isto vale para fofocas, formadores de opinião e duvidosos influenciadores.
É importante pensar, seguir sua intuição e princípios, antes de se deixar levar pela cabeça de um terceiro.
O “Experimento de Milgram” seja em filme, livro ou o experimento em si vale, não só como uma lição individual, mas principalmente coletiva e social, para se evitar o perigo que o ser humano pode se tornar, quando deixa de pensar por si mesmo, para se levar pela opinião alheia, seja por obediência, medo ou afeição.
Já dizia Nélson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”.
Uma pessoa sozinha pode ser mais inteligente e coerente que várias.
Bom senso, intuição e valores.
Depois: coragem!