Rumo a minha cidade natal, acompanhada do meu filho e de um amigo também adolescente, quase já passava pelo Rio Verde, quando decidi parar o carro e tomar um banho de rio. Em pleno final de junho o rio devia estar vazio e não teria ninguém para me olhar entrando em trajes íntimos na água. Na verdade, a menor das minhas preocupações.
O que me preocupava mesmo é que há anos não entrava no rio. E por mais vontade que tivesse de entrar naquele rio ou em alguma cachoeira que tanto costumava ir na época de adolescente, nunca encontrava pessoas na cidade que dividissem esse mesmo desejo. Então sempre acabava só nas lembranças daquele tempo em que tanto contato tinha com a natureza.
Perguntei para os meninos se eles topavam dar uma entrada na água. A resposta foi não. Eu disse pra mim mesma: “Não importa, desta vez eu vou, não vou ficar só na saudade do tempo em que era bom…”. Saí do asfalto e entrei na estrada de terra para a entrada do rio. Estava cheio d´água e sem ninguém por perto. Tirei a roupa e fui. Sozinha. Apenas informei: “Vou ali lavar minha alma e já volto…”. Devagar e já descalça, fui obrigada a lembrar do quanto as pedras eram traiçoeiramente escorregadias. Mas cheguei à bacia d´água que se forma alguns metros a frente de onde se estaciona. A água estava gelada, de entrar gemendo… Fiquei ali uns dois minutos talvez. Dois minutos em que me senti plena, envolta pela água límpida e fria, sentindo o cheiro do mato e o som da correnteza. Tão curto instante e tantas sensações ao mesmo tempo. Momento único em que a natureza e eu parecemos ser uma só. Em seguida voltei para o carro e me vesti ainda molhada. Fomos embora.
Vi que dois dias se passaram e não fiz nada melhor no fim de semana do que entrar naquela água. E ainda não entendo o porquê das pessoas se afastarem dos vários contatos com a natureza que lhe são diariamente oferecidos pela vida.
Descobri que meu anseio de viver a vida plenamente não deve depender da companhia de ninguém. Vejo a vida passar tão rapidamente, que quando coloco a cabeça no travesseiro à noite quero dizer para mim mesma: “Uau, hoje foi bom viver…” e não ter a sensação de ter vivido bem um dia, em algum lugar distante do passado.
Vejo a vida escorrer pelas mãos de tantas pessoas, que vivem suas rotinas sempre com o esquecimento de que a vida é finita, e este finito pode ser hoje, amanhã ou até mesmo daqui a pouco.
Vida passa. Tempo não volta. (Já escrevi isso aqui). Se momentos foram bons, deveríamos repeti-los a exaustão. Há de se viver agora, amar, brincar, correr, rir…, porque amanhã não se sabe.
A vida é feita de pequenos momentos que nos mostra o quanto tudo isso pode valer a pena. Sem esses momentos entramos no comodismo, a famosa zona de conforto. O dia-a-dia em que acreditamos, iludidos, que tudo está bem: trabalho, escola, contas pagas e plano de saúde em dia. Quando a vida deveria ser muito mais do que isso. Momentos de alegria, plenitude, instantes em que se ouve o próprio ser, o mais profundo de nós mesmos, os desejos da alma, do espírito aprisionado em nós querendo se libertar para algo maior.
Que eu não me permita envelhecer por outro caminho, mas este, em que ouço o som da minha própria voz, sinto minha pele, meu cheiro, falo comigo mesma e ainda consigo ver a natureza com olhos fechados. Que a vida não seja só um cumprimento de tarefas, mas um pulsar junto a ela percebido por mim diariamente.
Que eu sinta a vida dentro de mim, e que eu responda a seus anseios todos os dias, ainda que a maioria se esqueça de vivê-la como se ela não pudesse acabar agora mesmo.
Alimente sua alma com vida! Hoje! Não deixe pra amanhã! Amanhã pode já não existir! O rio ainda está lá.
1 Comment
Carol, existe uma Oxum – a orixá da água doce, dentro de você e que lhe rege!
Bendita seja a água que lava a alma.