_ “Olha, a matéria pode não ter muitos acessos. Acho que a crise afetou o espírito de natal”!
Foi assim que a minha editora reagiu ao receber um texto meu sobre esta época do ano. E ela estava mais do que certa. Não foi apenas o meu texto que acabou não sendo muito lido, mas a falta de enfeites de natal e afins estava clara em quase todos os lugares da cidade.
Dezembro. E apesar de ser uma terça-feira, para mim foi um dia de folga. E lá estava eu o dia todo às voltas comigo mesma: médico, cabeleireiro, shopping, parque e outros. E em todos esses locais, pouco eu vi sobre o natal. O que me surpreendeu foi a quantidade de pessoas tendo lazer em pleno horário comercial. Confesso que senti inveja e ao mesmo tempo me questionei se minha constatação era resultado da crise com um nítido aumento de desempregados nas ruas.
Minha folga acabou passando rapidamente. E algo inusitado aconteceu, mexendo com o meu dia. A caminho do parque, numa rua bem movimentada, um senhor de barba branca natural e comprida, vestido de Papai Noel, passou de moto por ali. Eu nem pensei. Imediatamente a cena me levou a sorrir e apertar a buzina. O motoqueiro de espírito natalino sorriu de volta para mim e começou a acenar. Os outros carros começaram a buzinar e a brincar com o senhor.
O sinal abriu e eu fui obrigada a seguir meu caminho, o qual eu fui rindo e com outro espírito de mim mesma. Me lembrei imediatamente das palavras da minha editora e pensei: será mesmo que a crise afetou o natal?
É certo que a crise afetou os bolsos de milhares de brasileiros, nos tirou a perspectiva de um ano melhor para o país. Perdemos o brilho de ser um país emergente, dando lugar à vergonha de alcance internacional, de uma corrupção de elite organizada e ativa. Não é fácil ser um povo governado por corruptos e ainda termos que admitir a falta de força de nossa população para a aniquilação da mesma.
Somos um povo conhecido em certos países como bobos alegres, que sem motivos para a felicidade, ainda rimos à toa e sabemos curtir a vida. Nos falta muito para a transformação do que somos individualmente e coletivamente para uma nação que luta por seu país.
Ainda assim, temos a força do amor, da esperança, da simplicidade da vida que carregamos em nós mesmos e na música de Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz… Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita”.
Que a crise afete apenas nossos bolsos e nossa gana de lutar por um Brasil melhor para nossos filhos e netos. Mas que toda dificuldade não nos tire a vontade de sorrir e de acreditar num amanhã melhor, ainda que o mesmo venha lentamente. Que toda dificuldade financeira nos alente a criatividade e a união com os nossos. Que nossa árvore de natal tenha menos pacotes à sua volta, mas não menos pessoas ao seu redor com sorrisos nos rostos. Que os presentes sejam mais baratos ou nem existam, mas que saibamos com isso enxergar o amor que realmente alimenta a vida: o da família e dos verdadeiros amigos.
E que com tudo isso, não deixemos para trás nosso senso de espírito esportivo, que permite um senhor de idade acalentar uma alma como a minha e fazer o meu dia e de tantos outros que tiveram a sorte de cruzar o seu caminho.
Que o natal mesmo sem presentes, venha com amor e sorrisos!