A gente tem que tomar muito cuidado com aquilo que não gosta e implica com os outros no dia-a-dia. Pode demorar um pouco, mas a lei do retorno é infalível. Eu já perdi a conta, de quantas coisas não gostava nos outros, no passado, e depois vi que me tornei igual àquela pessoa que implicava. E isso se dá de várias formas.
Quando mais jovem, era baladeira, hiperativa sem controle, vida louca. Detestava as pessoas mais certinhas e caretas, que considerava sem vida e sem graça. Adivinha? Hoje eu me encaixo mais no grupinho dos sem graça: adoro ficar em casa, gosto de silêncio, durmo cedo e fujo das “muvucas”, que outrora adorava. Maturidade e autoconhecimento. Quando a gente realmente se conhece e se gosta, a gente também se basta!
Mais engraçado do que meus antigos pré-julgamentos sobre as pessoas sem graça, eram as minhas persistentes implicâncias com meu ex-marido, que era onze anos mais velho do que eu. As implicâncias eram tantas, que ele nunca nem soube. Mais do que a monotonia do casamento, que nos faz aceitar cada vez menos as manias do outro, creio que a diferença de idade e de cultura não me permitiam ver certos hábitos com a mesma lucidez que percebo hoje. Pior: agora eu vejo em mim mesma!
Eu detestava quando meu ex-marido chegava em casa, tirava toda a roupa e se alegrava ao colocar um pijama velho e sem qualquer atrativo, para se deitar no sofá e ver alguma bobeira na TV. Hoje, sempre que posso, faço exatamente a mesma coisa, inclusive em relação ao pijama.
Meu ex ainda era alemão, extremamente organizado e sistemático, estava sempre pensando no que fazer para organizar a vida, desde utensílios de cozinha até uma viagem de fim de ano. Após anos de retorno ao Brasil e muita convivência com os alemães, eu finalmente percebi que me encaixava mais trabalhando com os alemães do que com os brasileiros. E isso também refletiu na minha vida pessoal. Hoje, eu planejo tudo, e já fui acusada de “TOC” pelo meu filho, devido à minha vontade de manter tudo sempre limpo e organizado. Hummm.
Já tive colegas de trabalho que divergiam de minha opinião ou características. Claro que algumas vezes esbravejei por dentro e me revoltei com alguns processos. Hoje, simplesmente sigo o ritmo de quem quer que seja e deixo fluir o trabalho como pode. Até mesmo as minhas características profissionais mudaram com o tempo. E pode ser, que no futuro, eu venha a ficar exatamente igual a alguém que hoje eu implico internamente (e não mais para ninguém).
Trabalhei, certa vez, com um superior que não era muito simpático aos olhos dos colegas e nem aos meus. Hoje, quando olho para trás, toda aquela antiga percepção se tornou admiração. Com o tempo, maturidade e consciência, tudo o que pensamos antes tem a chance de se tornar novo, bem como a própria personalidade que carregamos.
E o que falar de nossos pais e avós? Quantas vezes reclamos de suas características e manias? E quando nos vemos lá, na vida adulta, temos que dar, enfim, o braço a torcer, porque nos pegamos fazendo igualzinho, várias e várias coisas, que antes eram nada mais do que reclamações imaturas e sem percepção da verdade.
A vida é assim. Sorte de quem percebe a tempo e para de julgar o próximo. De um jeito ou de outro, tenho, às vezes, a sensação de que em algum momento na vida, somos um pouquinho de cada um. Quando não somos, vemos em quem amamos o que incomoda em outro. E assim por diante.
Espera-se: o tempo passa e evoluímos. Esta é a ideia! E objetivo!
No fim das contas, somos todos iguais.