Como nossos desejos são instigados? De que forma? Quais são os mais profundos? E os que mais importam?
Tem gente que instiga nosso corpo, outros que instigam a mente e aqueles que nos tocam a alma. Já pensou quem incita todas essas partes ao mesmo tempo? Este deveria ser o objetivo de cada um, mas há os que se contentam com menos.
É claro que uma boa mordida no pescoço e palavras ardentes podem incitar a vontade física, até mesmo por um período razoável. Mas sexo, meu bem, sozinho, não se basta. Hão de fazer falta as palavras inteligentes e sensíveis, que completam uma noite de insônia ou um dia de chuva, sem energia elétrica.
Certa vez, estava certa, de que estava num relacionamento que me flertava o corpo, atiçando a mente na mesma direção. Fazia muito bem para a minha autoestima. E creio que devemos nos permitir momentos assim. Por algumas vezes, me peguei comprando presentes em função dessa relação. Roupas, perfume e sim: calcinhas. Que mulher não gosta de se sentir desejada? E se isso for muito, é paraíso na terra.
Bem mais tarde, em uma nova relação, me apegava à palavra de quem me falava. Sua inteligência, carisma e energia forte me instigavam o cérebro, a vontade de raciocinar à altura. Não que não o fizesse, mas esta pessoa me mostrava novas percepções de vida. Sensibilidade e intelecto elevados, me fizeram comprar um livro, para entender melhor uma de suas histórias.
E aí veio a reflexão.
Qual é o melhor tipo de desejo? O que me faz comprar um livro ou uma calcinha? Um deles me instiga a mente. O outro, o corpo. Que tal o que me provoca os dois? Ao mesmo tempo em que ambos os desejos são bons, ainda mais considerando-se o nível de desejo e intensidade envolvidos, sei também do poder de uma autoestima elevada, causada pelo desejo do outro.
Mais profundo é o desejo que começa na mente. Não há olhos fechados ou ouvidos tapados que permitam o escape dessa vontade. A vontade física precisa ser vista, tocada ou sentida. Pelo cheiro, uma voz…, mas sem qualquer um desses estímulos, logo ela vai embora.
Bom é a junção das duas coisas. Uma voz que reflete sua inteligência e sensibilidade, com um toque forte e cheio de tesão, somado ao cheiro, gosto e tudo mais que se pode sentir numa boa relação.
Eu não comprei um livro por pura admiração, mas por um desejo que começa através de um raciocínio instigante, me levando a um lugar melhor de mim mesma, somado a um toque forte e uma vontade de sentir tudo ao mesmo tempo.
Bom é comprar os dois: o livro e a calcinha. Assim, o desejo começa de um jeito, termina de outro e se torna completo. Não se cansa. Não para e não se limita.
Se formos um pouco inteligentes, nos lembraremos que a vida passa, o corpo deteriora e com o tempo, todo tipo de desejo se faz necessário para uma vida plena.
Desejos à parte, os anos mudam o que somos e o que queremos. Corpo envelhece, vontade passa, mas as necessidades de uma mente e uma alma jamais cessam.
O tesão de agora pode ser a carência e vazio de amanhã.
Ainda dá tempo de comprar calcinhas.
Mas para um livro, sempre será tempo.
2 Comments
Excelente, eu acho que tudo tem seu tempo e seu momento. Eu já vivi momentos que me levaram para dar de presente surpresa algumas calcinhas, mais também acheiomentos de dar de presente algum livro. Adorei esses momentos. Hoje estou sozinho mais esses tempos e momentos ficam na mente e com a saudades vem os sonrisos.
obrigada!