Gosto de perceber a era em que vivemos, pois apesar do caos moderno a que somos submetidos diariamente, uma grande fração da humanidade parece tentar viver a vida do lado certo.
Além de uma infinidade de livros de autoajuda, as redes sociais se transformaram em consultórios virtuais constantes: frases de otimismo, vídeos conselheiros, dicas de toda ordem, como meditação, yoga, lei da atração, espiritualidade, histórias de sucesso, otimismo, positividade, motivação e tanto mais.
A criatividade das pessoas não para, no que diz respeito a criar mais um post bonitinho, politicamente correto e cheio de boas intenções. Gosto de perceber os motivos por trás disso. Porém, ao mesmo tempo, me surpreendo com a quantidade de supostos especialistas que surgem a cada dia. Vídeos de pessoas jovens dando dicas publicamente a quem quer que seja. Confesso que me questiono um pouco sobre o nível de consciência de algumas pessoas, por acreditarem em suas próprias aptidões no quesito sabedoria.
Conselho de vida dá quem já viveu. Quem já perdeu um filho está apto a consolar quem está passando pela pior perda de uma vida. Quem já teve câncer pode dizer como superou seus dias de doença e dor. Quem sofreu preconceito tem experiência para falar a alguém sobre como suportar essa humilhação. E assim por diante.
Fácil falar sobre como agir e ter boas energias, para quem ainda mal saiu da adolescência. Chega em casa, leia-se na casa dos pais, e tem tudo no lugar: comida, roupa lavada e dinheiro na carteira. Difícil é ser dono da própria casa, cuidar de tudo sozinho, trabalhar arduamente, ser humilhado e passado para trás, de diversas maneiras, na vida adulta e ainda assim manter a calma e a resiliência acima de tudo.
Não menosprezo as boas intenções de ninguém, tudo é válido e vira aprendizado em algum momento. Mas há de se ter bom senso na hora de ouvir o conselho de alguém. Eu mesma já tive a oportunidade de ser duramente desrespeitada por pessoa que só escreve e posta sobre temas gentis e de bem com a vida.
Falar é fácil, escrever é fácil. Exercer a gentileza mediante a ignorância são outros quinhentos.
Para quem já leu a biografia de Mahatma Gandhi pode já ter tido o privilégio de conhecer uma de suas belas lições. Certa vez, uma mãe pediu a Gandhi que aconselhasse seu filho diabético a não mais comer açúcar. Gandhi pediu que eles retornassem alguns meses depois. Ao retornar, o líder então aconselhou o menino que não mais ingerisse açúcar. Intrigada a mãe questionou, o porquê de ele não ter dado o conselho antes. E Gandhi respondeu: “Primeiro, eu tive que parar de comer açúcar! ”.
Conselho bom mesmo é de quem vivencia o que fala e o que escreve. Falar bonito, hoje em dia, muita gente fala. Mas será que faz?
Eu não tenho vergonha em dizer que ainda luto contra os meus próprios monstros diariamente, quando me vejo obrigada a conviver com situações que me desagradam. Eu preciso de esforço para não me sentir indignada, não reclamar e não alimentar pensamentos negativos. E reconheço as pessoas à minha volta que também se esforçam para tal. Mas fujo dos que se enchem de frases positivas, mas não exercem nem dez por cento do que essas mesmas palavras dizem.
Estamos numa era de positividade falada e escrita em todo lugar. Mas anseio pela era, quando ainda que haja atos de arrogância e humilhação, a resiliência fará permanecer o silêncio, em respeito a simples falta de evolução do outro. A bondade e gentileza na prática.
Até lá, atos positivos! O que vai muito além de posts e palavras bonitinhas publicadas sem parar.
Seja bom de verdade!
Postar e escrever é fácil.
Ser são outros quinhentos!
2 Comments
“Postar e escrever é fácil. Ser são outros quinhentos!”
PERFEITO.
Muito obrigada Milton! Bem vindo a minha página!