Conversando com uma pessoa interessantíssima sobre o eminente fracasso de um casamento, ela solta: “casamento é uma desconstrução”. Eu ri. Ri por dentro e por fora. Não pelo possível fracasso da união de alguém, mas pela tão profunda e escondida verdade na frase mencionada.
Como eu gostaria que o assunto “casamento” fosse tratado com a seriedade e honestidade que merece. A vida de quem casa seria muito mais fácil, se houvesse clareza no que diz respeito a algo tão sério e difícil. Até hoje as pessoas se casam, como se estivessem indo para uma lua-de-mel. Com a mesma inocência e ilusão, que meninas e mulheres engravidam: como se fossem viver um comercial de televisão, onde as mães estão em forma, bem vestidas e cheias de energia. Duas grandes mentiras de nossa sociedade.
Que fique claro: não sou contra nem uma coisa, nem outra. Mas sou contra o romantismo e falsa imagem que se vende em torno de ambas as coisas.
Casar é mesmo uma desconstrução. Ninguém casa e vive uma lua-de-mel, muito pelo contrário. O início do casamento costuma ser a pior parte do mesmo. É quando tudo que era, passa a não ser mais. A saudade acaba, a paixão esfria, a magia desmorona e a ilusão de uma vida nova se torna a realidade de outra vida totalmente diferente.
Se no namoro havia a necessidade da conquista, a saudade e o tesão desenfreado, no casamento, quase toda a energia se volta para os novos inevitáveis assuntos domésticos e financeiros: pagamento da casa, do carro, ou seja, do que for. O sonho financiado da vida a dois, se transforma no pesadelo da perda. Perda do que foi. Perda do que se sonhou que seria.
Casamento é uó. Não é pra qualquer pessoa. Há de se ter muita maturidade emocional para driblar as mudanças. E muito amor para aguentar aquela pessoa que se via como perfeita em outra cheia de imperfeições: que arrota, que dorme no sofá ao invés de sugerir um motel e que, do nada, parece ter se transformado no sapo da sua vida. Ou na sapa.
A verdade não é que casamento é ruim. A verdade é que a maioria das pessoas acredita que é uma coisa, quando é outra bem diferente. Vivemos numa sociedade que mascara a verdadeira identidade do significado dessa união.
O fato de o casamento ser uma desconstrução, não significa que ele não valha a pena. Porque após a desconstrução do que se acreditava ser, uma nova construção virá a existir, agora baseada em fatos reais e com maturidade para se vivenciar a vida a dois. Então de acordo com a realidade.
Assim como mães de primeira viagem aprendem que a maternidade não tem nada a ver com o paraíso e mesmo assim não desistem de seus filhos, há pessoas que conseguem encarar a nova realidade com destreza, novos sentimentos e hábitos inteligentes.
Casamento não é mais fácil do que namoro. É difícil como o que. Para quem é iludido demais, deve durar bem menos do que o sonhado. Para quem admite sua real desconstrução, tem grande chance de ser bem sucedido. E quando digo bem sucedido, não me refiro aos milhares de casamentos de aparência e comodismo, mas àquelas raras relações felizes de verdade.
Tudo na vida é um ato de desconstruir e reconstruir. Diariamente nos tornamos novas pessoas. Dia-após-dia, reconstruindo novos valores com as lições aprendidas, novas forças com as quedas de velhas construções, mas sempre com novos conhecimentos para construções mais fortes e duradouras.
A vida é um constante construir e reconstruir. Só é menos dolorido quando se tem consciência da realidade. Com a clareza do que se é, os tijolos ficam mais leves. E o entulho deixa de ser encarado dessa forma, para ser visto como material reciclável.
Há de se aceitar as desconstruções da vida, para os espaços tão necessários e desejados daquilo que é novo.
Desconstrução e mudança. Há quem saia correndo para permanecer no mesmo lugar, sem dores. Mas felizmente também há os que encaram o inevitável sofrimento do mudar, indo para um lugar muito melhor.
Só quem chega lá é quem sabe.
1 Comment
Uma reflexão pra pensar!
A leitura desse artigo merece ser feita com todas as pausas.