Há muitos anos atrás, presenciei o começo de uma história de amor bastante peculiar. Se tratava do pai de uma amiga minha, com uma menina de treze anos. Como também ainda era jovem, apenas estranhava a atração da menina por aquele homem mais velho. Eu não tinha, felizmente, nenhuma opinião na época. É possível que tivesse uma opinião negativa a respeito, se tivesse vivenciado o mesmo fato alguns anos mais tarde, já com os preconceitos da sociedade.
Mas o tempo passou e eu nunca questionei aquela diferença, até porque sempre tive a forte impressão de que ambos eram muito felizes juntos. Eles tiveram filhos, amigos em comum, iam à igreja, trabalhavam juntos. Na verdade, eu só acompanhei de longe essa relação, pois morando em cidades sempre distantes, os encontros eram casuais e esporádicos.
A minha amiga também nunca se importou com o fato do pai se relacionar com alguém ainda mais nova do que ela. Acho que ela sentia tanto o sofrimento que o pai já havia vivenciado em sua vida, que para ela a única coisa que importava era vê-lo feliz.
É claro, que em nossa sociedade esta diferença só é aceita porque o homem é mais velho. O contrário é um tabu ainda maior do que o descrito.
Hoje eu soube que a menina se foi. Foi embora, tão jovem ainda, que nenhum sentido faz. Deixou seus filhos, marido e tantos amigos. Lutou positivamente contra um câncer com todas as forças que pôde.
Senti pena da menina, mas ao mesmo tempo pensei em sua sorte.
Enquanto ela poderia ter sido julgada por uma sociedade inteira por se relacionar e ser feliz com homem bem mais velho, fico pensando na sorte que teve em ser amada tão cedo, em tão tenra idade. A menina aprendeu o que era amor verdadeiro bem cedo. Foi amada e nem um dia mais de sua breve vida, deixou o seu grande amor de lado.
Quantos de nós passamos uma vida inteira em busca de um amor verdadeiro em vão? Às vezes, parece que o amor não é mesmo para todos.
A menina foi embora cedo, mas teve a sorte de ter sido amada quase que sua vida inteira. Ao invés de viver sua adolescência como a maioria, curtindo e experimentando tudo o que a juventude tem a oferecer, ela optou por um amor maduro.
Me pergunto se ela foi julgada em algum momento… Numa sociedade tão infestada pelo preconceito em que vivemos, só consigo ficar feliz pela sua escolha lá atrás, há tantos anos, que lhe permitiu viver sua vida curta ao lado de seu companheiro.
Nada compensará a dor daqueles que ela deixou. Mas eu como mera espectadora dessa história, e admiradora, fico feliz por ela. Porque muitos que vivem uma vida longa, nunca tiveram a sorte que ela teve.
Ela pode ter ido cedo, mas foi em paz.