Hoje em dia, se fala tanto em felicidade, que ser feliz, parece que virou obrigação. São tantos “gurus” virtuais e em todo meio de comunicação, que exige até projeto: anotar num caderno, pendurar na parede, mentalizar, pensar, repensar e por aí vai. Livros e vídeos sem fim, indicando um caminho, onde todos querem chegar.
Mas será que existe? Chegaremos um dia a tal felicidade?
Ainda que o sonhado estado de espírito seja único para cada um e ao mesmo tempo parecido, me questiono sobre a maneira como a felicidade é encarada pelas pessoas que tanto dela falam.
O decorrer da vida tem me mostrado que ainda que busquemos a felicidade como uma meta, ela é algo que faz parte de nosso dia-a-dia, está ali, nas pequenas coisas, nos gestos de gentileza, de gratidão, de amor. Felicidade não é apenas um estado de espírito, mas também de maturidade, de viver a transformação interna necessária, para se perceber a felicidade disponível, independente dos fatos.
Buscar a felicidade está na moda, em pauta. E creio que nunca houve momento algum na história com tantos ensinamentos para tal. Até mesmo adolescentes arriscam ensinar os demais a como ser feliz. Considero boa a intenção, mas me questiono se o jovem já entendeu o que é uma dificuldade ou uma grande perda, a ponto de aconselhar os mais velhos. Fácil falar em felicidade, quando ainda não se viveu o bastante para compreender o que é dor e sofrimento e a própria felicidade em nível mais profundo.
Fala-se tanto em felicidade, que se acredita que a vida gira em torno apenas dos risos. Parece que sofrimento não existe, dor é psicológica e fatos ruins só ocorrem se você não pensar positivo. Calma lá…
A vida é um eterno equilíbrio ente dois lados: o bem e o mal, o ontem e o hoje, o feliz e o infeliz, o acaso e o planejado. Numa eterna dança entre o que buscamos e o que não queremos, feliz é quem encontra o sentido disso tudo.
Para alguns, a felicidade vai continuar nas coisas materiais por um bom tempo, até que se perca a saúde ou amor para uma compreensão mais além. No mais, todos desejamos a harmonia e prosperidade em família, o grande amor de nossas vidas, paz, saúde e alegria. Mas nada, absolutamente nada disso vem sem luta e sem percalços no caminho.
Viver é dolorido, e quanto mais se vive, mais se percebe as próprias ilusões e os próprios erros. E tempo se leva para corrigir e perdoar o que passou. O caminho é longo.
Ser feliz e buscar a felicidade tem se tornado obrigatório demais.
Felicidade é leveza, contentamento, sutileza de sentimentos, e gentileza ainda que em momentos difíceis.
Quem dera, felicidade pudesse ser vista como algo simples. Um sorriso de criança, um canto de passarinho pela manhã, ou o vento batendo no rosto num fim de tarde. Um banho de mar.
Felicidade acontece em breves momentos, que podem ser revividos em nossas lembranças, sempre que as acessamos. Com o auto respeito de poder viver os momentos de sofrimento em paz. Posso me sentir infeliz, por um instante, por favor?
Que a felicidade nossa de cada dia, possa ser algo sem manual de instrução.
Que possa ser o que quiser e quando puder.
No resto, há de se perceber o que é exagero, imaturidade e até mesmo falta de respeito com a nossa fragilidade.
Somos humanos, frágeis e temos o direto de nos sentirmos tristes.
Maturidade e consciência é que traz o saber, de que se agora não estou feliz, já já irei estar. É a vida.
Felicidade também é liberdade.