Muito se falou sobre arte e pedofilia nos últimos meses, como se uma coisa pudesse levar à outra. E apesar do fato, que levou à tantas discussões e postagens, não li em lugar algum, o que acredito ter sido o real motivo para a polêmica.
Vivemos num mundo doente, com pessoas machucadas, feridas por dentro. Todos nós fomos feridos um dia, de um jeito ou de outro, em algum momento de nossas vidas. São anos e décadas vividas, para que um dia tomemos conhecimento de nossas próprias dores, a ponto de finalmente buscarmos uma cura interior.
Infelizmente, nós não fomos protegidos o bastante em nossas infâncias, como também tememos pela infância de nossos filhos. Quando somos capazes de ser bons o bastante em casa, não somos o bastante para proteger os nossos lá fora. E vice-versa. Por vezes, não somos bons em casa, por falta de maturidade. Um dia alguém errou conosco, e agora podemos errar com nossos pequeninos. Dói viver numa sociedade que, em algum ou vários lugares, se mostra falha, e em muitos momentos. Machuca profundamente perceber a nossa própria impotência diante dessa realidade.
Mais do que pessoas machucadas, ainda somos seres que não aprenderam a expressar a sua dor e seus medos da melhor maneira. Muitas vezes, esses sentimentos simplesmente chegam, e de forma inconsciente, seguimos irados sem entender exatamente o porquê de agirmos assim ou assado.
Falta ainda tempo para a maioria de nós, para compreendermos a nós mesmos e as nossas feridas, bem como a ira que por vezes nos acompanha. Precisamos de tempo para refletir, para que uma atitude acertada realmente possa acontecer. Até lá, muitas polêmicas podem surgir. Então o mundo se manifesta, grita uma dor direcionada a uma outra coisa, numa ilusão de cura e solução, para uma dor em carne viva e escondida.
Temos dois grandes problemas. Nós, os mais velhos, maduros e que agora dirigimos o presente, não trabalhamos o suficiente a nós mesmos. Não tivemos tempo ainda para isso. E, portanto, não estamos realmente prontos a estar no cargo em que estamos. Somos pais, irmãos, avós, ou simplesmente filhos. Com toda a dor ainda de um passado remoto, nossas feridas ocultas.
E se não nos curamos ainda, também não sabemos conscientemente aquilo que incomoda, não sabemos expressar. Então brigamos a qualquer custo, tentando proteger os nossos daquilo que nós mesmos não fomos protegidos.
O que ninguém falou ou escreveu, é sobre o quanto de nós foi abusado de alguma maneira ou traumatizado na infância. Física ou emocionalmente falando, a maioria de nós teve um trauma que nos despertou a ira e a tristeza. E dotados ainda da incapacidade de lidar com isso e com todo silêncio que se faz a respeito, gritamos feito crianças a dor e o medo de que o mesmo aconteça com os nossos.
Vivemos numa sociedade, onde ainda a infância da maioria não é protegida de verdade. Assim como nós mesmos, nossos filhos podem não estar protegidos o bastante. O mal pode estar em qualquer lugar, e justo num momento quando não estaremos lá para ver e reagir.
Como faremos para uma criança entender que a mesma nudez que deve ser natural em um momento, pode ser perigosa em outro? Como ensinar um pequenino a se proteger, quando ninguém mais estiver lá? Este é um ponto específico a ser tratado.
Vivemos um mundo doente, porque a maioria de nós foi ferida e ainda não foi curada. Esta dor se reflete na sociedade de diversas maneiras. E a maior solução para proteger os nossos é a cura de nós mesmos. Sem a raiva e a dor, enxergamos melhor, e depois nos expressamos de maneira efetiva.
A arte em suas diversas formas pode e deve ser uma aliada em nossas vidas. A arte cura feridas, nos organiza de dentro para fora.
Arte pode servir de ferramenta para proteger os nossos e amadurecer suas emoções. Para tudo há de se ter bom senso.
Uma pessoa ferida fere, bem como toda uma sociedade.
Antes de qualquer censura, a cura de nossas feridas, para melhores exposições sobre os problemas, suas causas e soluções.
A arte é uma forma de cura. De nós mesmos. E dos nossos.