É por você, meu filho, que eu seguirei viagem. Quando eu chegar, terão sido 162 dias sem você. 23 semanas. 5 meses. Você partiu numa quinta à noite. E eu chegarei numa nova quinta.
Terão sido 162 dias sem seus olhos, sua presença e belo sorriso.
Entendo que nesta vida nada é em vão. E embora seus caminhos e escolhas me pareçam difíceis, às vezes, penso que você apenas repete muitos de meus próprios passos.
Só sei que a vida passa mais devagar quando há saudade. E muito rápida quando há a plenitude de amor e alegria.
Tento acreditar que em todos esses dias você esteve bem, embora eu saiba que isso não existe. Em todos os momentos da vida, há alegria e tristeza. Quase nunca é uma coisa só. O que muda é a importância e valor que damos a uma coisa ou outra. Olhamos para o que é bom, na intenção de compensar o que é ruim.
Lembro-me que na minha última decisão de mudança de trabalho, você afirmou que não mais me acompanharia, que não gostava das minhas repetidas mudanças. Eu compreendo. Mas também creio que você levou consigo esta garra e coragem de mudar. E tanto quanto eu, talvez até demais.
E agora, eu vou até você. Apesar de já ter vivido onde você está, eu ainda não planejava um retorno. Contra uma vontade natural, enfrento o receio de um voo, uma passagem cara e o frio de março europeu.
Sinto orgulho dos passos que deu, mesmo quando não os compreendo bem. Sei que cada um tem o seu próprio caminho. E mesmo que outras trajetórias me pareçam mais fáceis ou coerentes, entendo que você irá seguir a sua. Você tem as suas lições a aprender.
Agradeço por todas as vezes que aceitou uma mudança em sua vida em função da minha. Eu não acho que fiz isso me divertindo, mas por acreditar que era algo bom. Mesmo com toda a minha imaturidade e inexperiência, eu estava tentando melhorar. Sem planejamento e estratégia o suficiente, minha vida não foi uma linha reta, mas um novelo de lã, que só agora se desenrola.
Mas quero que saiba, que quando olho para trás, dentro de mim eu sei bem, que há tempo eu sigo você. Não como um guia, mas como a força que passou a me reger.
Embora eu não tenha demonstrado o bastante, foi a sua existência que deu o maior sentido à minha. Ter você em meus braços, transformou a menina, caipira e inocente, em uma mulher que começou a olhar a vida de uma forma muito maior.
Minha imaturidade não me permitiu ser melhor do que fui. E ainda sinto que não sou o melhor que posso ser. Mas sei que estou no caminho para isso. Assim é a vida. Muitos anos de pura inconsciência. E a sensação de um eterno errar e consertar. Com a chegada, mesmo que tardia, da enfim consciência, os erros diminuem, e o novelo de lã parece finalmente se esticar.
Acho que continuarei errando. E me culpando, como todas as mães o fazem. Nunca fui muito boa em acertos. Na maioria das vezes, tive que errar primeiro, para depois descobrir o certo.
Mas parei de me julgar. A culpa pelos erros do passado não me levaram a lugar algum. Resiliência que hoje me permite aceitar a tudo e a todos, exatamente como são. Trabalho e mudo apenas o que posso: a mim.
Por você certamente continuarei forte, pois esta é a palavra que melhor define o que você me trouxe à vida: força!
Agradeço por tudo o que me deu. E lhe convido a me dar a mão. Seres errantes, certamente continuaremos nesta trajetória do errar e acertar. Errar e consertar. Errar e aprender. Errando e perdoando. Errando e amando.
É por você, meu filho.
É por você.
Toda a minha vida.
E mesmo que você não saiba.
https://youtu.be/sVscVrg-xM8