Há quase oito meses atrás começávamos um curso de inglês para os executivos da empresa onde eu trabalho. A intenção era dar condições de comunicação entre os executivos da empresa no Brasil com os executivos alemães que sempre vem à nossa fábrica.
Eu entrei como professora. “Será que ia dar certo?”, eu pensei. Logo no primeiro dia de aula percebi que ia ser difícil não rir de tantas graças que os amigos de décadas faziam entre eles. Um tirando sarro do defeito do outro e por aí vai. Sabe aquelas coisas que ninguém tem coragem de falar? Pois é …, aqui o povo fala. E melhor: fala na cara!
Depois de alguns meses a turma diminuiu bastante. Dentre eles fugiram das aulas o malicioso e o “bebum”. Até achei que a graça ia diminuir. Mas não é que com o tempo foi ficando mais engraçado? Apesar dos já tantos anos dando aula, tinha me esquecido de que com o tempo cada turma vai criando suas próprias histórias, seus laços. E os que antes pareciam os mais tímidos, se tornam os mais presentes.
Um dia meu antigo diretor perguntou como a turma se comportava. Eu respondi: “Como o senhor espera que a turma se comporte, com a professora que o senhor contratou?”. Ele riu. Conhecia bem sua secretária. Não havia sombra de dúvidas.
O que eu posso dizer depois desses oito meses de aula é que o inglês evoluiu, o cansaço e as reclamações de se ter que fazer aula são quase uma constante. Bem dizer, de ambas as partes. Mas mesmo com todo cansaço do dia a dia e a falta de tempo, tenho que dizer, que na maioria das vezes essas aulas se tornam a hora mais engraçada de todo um dia de trabalho.
Certo dia, um dos mais falantes “em inglês”, nosso gerente de TI, descrevia como era sua mãe, quando ele soltou a seguinte frase: “She is tranquilize…” (ele quis dizer: ela é tranquila). Eu me segurei num esforço tremendo pra não rir e quando ele terminou sua descrição eu respondi: “That sounds very nice, but “tranquilize” doesn´t exist!” (Isso soa muito bem, mas “tranquilize” não existe!). A classe riu em seguida tão alto, que mesmo os funcionários do outro lado do prédio puderam ouvir. Pronto. “Tranquilize” virou jargão entre os que frequentavam as aulas.
Ainda antes disso houve uma aula em que descrevíamos nossos filhos. Por algum motivo que desconheço, toda vez que nosso contador tinha que descrever sua filha, ele acabava descrevendo seu cachorro. As piadas sobre ele preferir o cachorro rolam até hoje. E nessa onda descobrimos que um dos supervisores tratava sua cadelinha como uma rainha. A mesma tem coleção de roupas e até de biquíni. Depois disso ainda fui obrigada a ver a mesma no facebook.
Como típica professora, sou péssima desenhista. Para aprender preposições sobre locais, fiz um esboço no quadro com algumas ruas, árvores e pessoas. Os alunos tinham que dizer em inglês como uma pessoa ia de um lugar ao outro (em inglês, claro). A caneta usada tinha sido a vermelha e nossa gerente de vendas tem cabelo levemente ruivo. Somado ao meu desenho no quadro, muito mal feito, alguém solta a pérola: “Como eu faço pra dizer que a gerente está em cima da árvore?”. A desconcentração foi geral e durou pelo menos uns dez minutos de gargalhadas e comentários sobre meu péssimo desenho. E o porquê da gerente estar em cima da árvore se tornou muito mais importante do que qualquer preposição. “Afinal, o que ela está fazendo ali em cima?”. E riam…
O problema é que todos acabamos nos lembrando mais das piadas do que das lições. Embora todos os risos sejam o que faz com que a gente se motive a estudar mesmo depois de uma jornada inteira de trabalho. Pra falar bobagem os alunos são ótimos, mas na hora de falar inglês fora da sala, eles às vezes travam. É, tá na hora de fazer uma prova…
Meu medo mesmo é que qualquer dia, quando um de nossos colegas alemães nos visite, um dos meus alunos pergunte: “How are you? Tranquilize?”…