Numa conversa sobre comportamento, uma pessoa me chamou a atenção para uma nova e inesperada percepção. Ele disse: “as pessoas sempre foram assim e são assim em todo lugar. Você que só está percebendo agora”. Creio que congelei por dentro, por alguns segundos, sentindo uma possível verdade em sua afirmação.
Mas onde eu estava, mentalmente falando, que nunca me dei conta disto? Em que nível de alienação eu vivia, que nunca me senti atingida pelo comportamento das pessoas? Ou que nível elevado de amor eu tinha, para que jamais sentisse o que sinto hoje quando convivo com os demais?
Num misto de dúvida sobre meus próprios questionamentos e a necessidade de encarar a afirmação que acabara de ouvir, me dei por vencida. De alguma maneira, ele tinha razão. É preciso maturidade para se enxergar as pessoas como elas realmente são, isso demanda tempo, tapas na cara, dores internas, que nos fazem ver o mundo como ele realmente é e não como o que desejamos ter ao nosso redor.
Uma coisa é observar a minha família, os meus amigos e pessoas que admiro, assim como ir numa balada, onde todos estão rindo, alterados pelo álcool e objetivo comum da paquera e diversão.
Com o passar dos anos, vamos aprendendo que uns e outros só se aproximam para tirar algum proveito, seja amoroso, financeiro ou até intelectual. Muitas vezes, um “quase nada”, já pode ser motivo para a aproximação de uma pessoa com intenção puramente egoísta.
Afinal, porque é que se passam os anos e tão poucos são os que ficam ao nosso lado? Será mesmo que a amizade não foi verdadeira? O momento vivido foi superficial? Ou acabaram-se os interesses? Todas as respostas podem ser verdadeiras. Levamos tempo para amadurecer a nós mesmos e nos tornarmos pessoas merecedoras dos que estão a nossa volta. Leva-se tempo para que sejamos realmente dignos de um amor verdadeiro e de uma amizade que supere o passar do tempo e toda e qualquer diferença.
Se leva tempo para moldarmos quem somos de maneira digna. Vejo agora, que somente após este molde é que nos tornamos capazes de ver as pessoas como elas realmente são. Não são elas que mudaram, o mundo sempre foi assim. A gente é que demora mesmo, para crescer e tirar a venda da infantilidade e alienação, que nos acompanha do nosso mundo do faz de conta.
Sim, meu amigo tinha razão. Sua afirmação era tão simples, mas pela primeira vez, eu me senti surpresa com uma nova percepção e sua aceitação em tão poucos segundos.
Vivemos num mundo cão. E não acredito que as pessoas sejam más, não é este o meu ponto de vista. Difícil é subir a montanha e ver os que ainda sobem, puxando o pé de quem está tentando subir ou jogando pedras morro abaixo. Na evolução nossa de cada dia, quanto mais se sobe, melhor se vê os que estão abaixo e suas atitudes nas dificuldades da subida.
Cada um a seu nível de evolução, mas todos fomos assim. Em todos os estágios que passamos na vida, em algum momento teremos de ver outros passando por eles, mas sob um novo ponto de vista.
Olhar o erro ou maldade de alguém, é quase como se olhar no espelho, o que em algum momento já fomos, ou estamos lutando para deixar de ser.
Simplesmente uma nova percepção de algo que sempre esteve ali e sempre foi assim. E vai continuar sendo.
Se ainda não se viu, verá.
Apenas uma questão de tempo e maturidade.
1 Comment
Lindo e verdadeiro o seu texto!!… Sendo um assunto tão complexo, não é?!
E você colocou tão bem nesse texto. Parabéns Carolina!! Abraços e um ótimo final de tarde pra você!!