Se teve algo que não me chamou a atenção na infância, posso dizer que foram os contos de fadas. Acho que desde pequena, já percebia a ilusão por trás do “felizes para sempre”. Mas apesar do meu pouco apreço às histórias de princesas, não resisti ao convite para assistir o novo filme da Disney: Malévola. Tinha a certeza da grande produção e da grande atriz. No mais, me permiti a surpresa.
E que surpresa…
A Walt Disney, em primeiro lugar, surpreendeu por mudar profundamente o roteiro de “A Bela Adormecida”. O estúdio não transformou apenas um roteiro inocente em um roteiro inteligente, mas alterou o sentido e a moral da história. Muito há para se falar dessas alterações e de formas bastante positivas.
Para começar, muito diferente da narração em que um bebê sofre uma maldição por um motivo banal, a versão moderna no filme apresenta o enredo protagonizando quem seria a suposta bruxa má, apresentando os motivos que a levaram à tal feitiço.
A nova versão da história começa mostrando dois reinos: o dos humanos e o das fadas. Eles vivem em relativa harmonia com a ajuda e vigília de Malévola, a mais poderosa das fadas. Desde pequena, Malévola aparece feliz, impedindo a entrada de humanos em seu reino. Quando criança conhece um menino que invadiu o espaço das fadas e se torna amiga dele. Mais tarde, na adolescência, o rapaz chamado Stefan volta e beija Malévola com a promessa de amor verdadeiro. Porém, o jovem é ambicioso e em nome de seus caprichos humanos, abandona sua fada.
A bruxa tem uma história. Mas será ela má de verdade?
Seguindo no enredo moderno, mais tarde o rei e soldados humanos tentam invadir o reino das fadas, mas são impedidos por Malévola. Se sentindo humilhado, o rei oferece a mão de sua filha em casamento e o trono para aquele que matar a poderosa fada. Stefan mais uma vez prioriza sua ambição e usa do amor e inocência de Malévola para alcançar a premiação e posição no seu reino. Malévola é traída de forma intensa e grotesca.
Não pretendo aqui tirar a surpresa de quem ainda não assistiu ao filme. Mas de maneira geral, tudo o que mudou no filme passa a ter sentido, uma razão à nossa inteligência e instigação às nossas próprias ideias sobre o que vem a ser moral, quando comparamos a primeira história à segunda.
O filme mostra uma nova versão sobre o que é o amor verdadeiro, muito mais bonito e de acordo com a realidade de nossas vidas. Esta nova versão também nos faz refletir sobre o que é o mal de verdade, o que leva alguém a agir com maldade. Não há de se conhecer os fatos antes, para depois se criar um julgamento? A história também mostra o amor materno entre uma mulher e uma criança que não possuem laços de sangue, o arrependimento e o perdão.
Malévola para mim não é apenas uma melhor versão de “A Bela adormecida”, mas um filme que respeita a inteligência de quem vê a história, e sobre o que deveria ser o caráter humano. Pois muito melhor do que acreditar ingenuamente no “felizes para sempre”, é ser incitado ao pensamento sobre valores verdadeiramente importantes na nossa sociedade: caráter, amor, arrependimento e tanto mais.
Angelina Jolie arrasa no papel de Malévola. A superprodução certamente merece os mais de seiscentos milhões de dólares já arrecadados em bilheteria. Pois se formos investir o valor de um ingresso, que seja não apenas numa distração, mas num entretenimento que induz a um mínimo de filosofia. Pois mais vale o pensar e refletir, do que a aceitação patética às ideias ingênuas e enganosas dos contos de fadas.
Um viva aos tempos modernos e àqueles que conseguem transformar algo tão tradicional e errado numa nova ideia a ser refletida.
Eu mais que recomendo!