Já adepta à culinária japonesa, há poucos dias fui surpreendida por algo que nunca havia experimentado: missoshiru. Ainda me encontro decorando o nome difícil, porém seu sabor inigualável ao meu paladar me surpreendeu.
Missoshiru nada mais é do que uma sopa com pouquíssimos ingredientes: água, ajinomoto, cebolinha picada, tofu, missô e hondashi, seja lá o que forem esses últimos dois. Aparentemente é algo bem simples. Quando olhei ainda pensei: “Vou tomar sopa ao invés de comer sushi durante um rodízio japonês? Qual a graça nisso?”.
Até que tomei um gole. Mal pude acreditar. Como algo tão simples podia ter tanto sabor? Eu ainda não sei. Só sei que alguns dias se passaram e eu estava comendo pipoca salgada demais, milho salgado demais, ou qualquer coisa com muito tempero. Eu me dei conta, de que queria sentir aquele sabor mais uma vez. A vontade estava lá, reprimida e indiscreta. E eu fui obrigada a perceber que precisava de mais missoshiru.
Desconfiada fui provar o sabor em outra cidade, já em outro restaurante. E descobri que realmente deve ser algo bem simples, pois lá estava ele mais uma vez: o sabor forte e salgado, igual a não sei o que. Para mim, intenso e único.
Paladar é algo particular, pessoal e intransferível. Há quem não deva concordar com minha mais nova paixão gastronômica. Mas o fato é que essa combinação tão simples de ingredientes, que fazem um prato comum e aparentemente sem graça, me levaram a uma reflexão.
Sem eu perceber, estava buscando aquele novo sabor em outros alimentos, tentando uma sensação similar ao que tinha degustado. A minha memória gustativa pedia a repetição daquela experiência. Meu corpo mostrou vontade própria e estava me enviando sinais desesperadamente.
Se por poucos dias me peguei, despercebidamente, buscando um sabor em coisas onde não iria encontrar, e mesmo assim o fiz, só pude rir de mim mesma e dos meus sentidos. Depois me indaguei sobre algo bem mais profundo.
Quantas vezes não buscamos um olhar em outros olhos, um beijo em outras bocas, um toque em outras mãos e uma sensação em outros corpos?
Se uma simples sopa teve a capacidade de confundir meus sentidos em poucos dias, deixando meu corpo desesperado e faminto pelo perfeito sabor degustado, o que dizer de uma paixão que um dia também foi perfeita para os cinco sentidos?
Igual ao missoshiru, uma paixão é feita por ingredientes únicos e naturalmente simples: um beijo, um olhar, um toque, um momento. Provavelmente a perfeição de uma receita esteja na intensidade, na temperatura e no momento em que os olhos e todos os ingredientes se encontram.
Eu já senti diferentes beijos, diferentes toques e tantos olhares, mas a maioria nunca se transformou em paixão e nem em amor. E o pobre do meu corpo deve ter buscado aquela sensação de plenitude existente no amor, assim como minha boca procurou pelo missoshiru em pipoca e milho cheios de sal.
Eu concluí que amor pra mim é igual ao missoshiru: é simples e pode se ter quase em qualquer lugar, mas os ingredientes e o momento deles têm a perfeição do desconhecido. É como o paladar. Não se sabe por que, mas ou se sente, ou não.