Vinte e cinco anos se passaram, quando eu me vi com uma pessoa, em situação tão semelhante ao passado, que tive de reviver a dor que a mesma havia me causado.
Eu tinha dezenove anos, quando tomei uma decisão de extrema importância e que mudaria toda a minha vida de lá em diante. Foi o melhor a ser feito e sou muito grata a mim mesma por isto.
A minha força, mesmo tão menina e ainda ingênua, chamou a atenção de outras pessoas, que achavam que deviam tomar a mesma decisão em suas vidas. Uma delas “me seguiu”. Porém, internamente, aquela pessoa nunca resolveu o seu problema e projetou em mim todas as suas frustrações e cobranças. Foi pelo menos um ano de abuso emocional. Eu era menina demais para enxergar a situação como agora sou capaz de perceber.
Vinte e cinco anos se passaram e esta pessoa continua exatamente no mesmo ponto, as reclamações continuam sendo as mesmas, bem como as dores e frustrações. Na verdade, só aumentaram. E agora eu pude dizer: sinto muito, mas eu não tenho nada a ver com isso. São decisões e atitudes que só cabem a você.
Mais uma vez esta pessoa queria “me seguir”, mas agora adulta, eu disse: não!
Não foi só uma vez que isto aconteceu em minha vida e não apenas neste âmbito.
Sempre soube que sou uma pessoa forte, pois o tive de ser desde menininha, só não sabia verbalizar o que sempre fui e que hoje me é tão claro. Quando jovem, não compreendia a fraqueza e falta de atitude das pessoas desprovidas de coragem e atitudes, sempre tentando seguir à minha sombra.
Este tipo de pessoa possivelmente nem se reconhece neste texto. A fraqueza não lhes permite. Não se trata de maldade, mas de imaturidade emocional e consequente e inconsciente covardia.
Poucos anos atrás cai na mesma cilada. Uma pessoa me pediu ajuda para sair de um relacionamento abusivo e no meio do caminho desistiu da ideia, me fazendo parecer a vilã da história e sofrer consequências sobre as quais afetaram em muito a minha vida na época. Sofri e aprendi!
Sei da minha capacidade de ajudar com o ouvir e elaborar perguntas e considerações que abrem os olhos das pessoas para suas cegueiras de anos, quando não de décadas. Fico feliz em lhes proporcionar alguma luz em seus pensamentos. Porém, muitos são os que ao receber este momento iluminado de lucidez e consciência, tentam seguir a minha sombra.
Não é maldade, mas uma atitude de dependência emocional, de pessoas que não conseguem tomar decisões para elas mesmas e esperam que pessoas fortes o façam e dirijam suas vidas.
Não!
NÃO!
Aprendi a dizer não!
Ajudo sim! Apoio! Doo palavras e companhia sincera que iluminem sua cegueira e tragam a sua consciência à tona, mas o resto não depende de mim.
Isto acontece com amigos, colegas de trabalho, conhecidos ou até mesmo com pessoas que tentam se relacionar emocionalmente comigo.
E eu digo, quantas vezes forem necessárias: não!
NÃO!
Sinto muito! E não!
Não sou responsável pelos casamentos fracassados alheios ou outras questões e pelas pessoas que não conseguem sair de seus problemas.
Não sou responsável pelas pessoas que me querem pela minha força e coragem e se sentem confortáveis com a ilusão de seguir a minha sombra.
Não aceito ser alvo de dependência emocional.
Aceito com honra e gratidão ser inspiração, palavra e apoio. No mais, simplesmente: não!
Me protejo quase que diariamente de pessoas que me querem de codependência emocional. E trabalho com o “não” para que isto diminua drasticamente!
Se sou assim é porque sofri e aprendi a ser forte.
Se tomo decisões é porque decidi tomar, ninguém o fez por mim.
Se tenho sucesso profissional é porque venho me esforçando e trabalhando há anos em busca de um sonho, o qual tive que trilhar sozinha num caminho sem direção, mapa ou placa nenhuma. Pouquíssimos me ajudaram sem pedir algo em troca, com muitos tentando tirar proveito.
Hoje colho o que plantei e não tenho que dividir com ninguém o resultado de meus esforços, exceto por aqueles que me ajudaram a cortar a trilha com o facão pesado, sujo, velho e a ser afiado.
Isto é ser adulta: não! NÃO! E não!
Crescer é um ato individual e não a perseguição da sombra de outrem.
Nos inspiramos em pessoas fortes e corajosas, pedimos e aceitamos apoio sim, mas com tudo isso, nos tornamos fortes.
Sugar a força do outro é um ato de covardia, de pequenez e inconsciência! Pode não ser um ato consciente e por isso mesmo, depende de nós o dizer não!
Dizer não nada mais é do que um ato de coragem.
Quando alguém se sente abusado por outro, da maneira que for, dizer não, gentilmente, é um ato protetivo para si mesmo e de alerta ao indivíduo que quer a nossa sombra.
Não somos responsáveis pela falta de atitudes e cegueiras alheias.
Por mais que gostemos de alguém, não somos responsáveis por aqueles que não conseguem sair da lama que entraram por conta própria.
Não somos responsáveis pela falta de decisão, esforço e coragem, além da inconsciência dos demais.
Vivemos num mundo com muitas pessoas que não veem o próprio nariz.
Abrir os olhos e seguir em frente, se desviando dos que tentam se pendurar em nossos ombros é um ato de amor próprio, sobrevivência e qualidade de vida.
Não é não!
Ame-se!
E ponto final!
4 Comments
“Vinte e cinco anos se passaram, quando eu me vi com uma pessoa, em situação tão semelhante ao passado, que tive de reviver a dor que a mesma havia me causado”.
Gostei muito do texto Carolina!. Complicado fazer uma leitura em cima de algo pronto.
oi Paulo, obrigada!!!! Seja bem vindo por aqui… acho que nao entendi bem… á disposição pelo messenger. Um abraço!
Abrir os olhos é um passo… o próximo é que é mais difícil… mexer o corpo… Numa situação em que a preocupação com o próximo é tão forte que te faz abdicar de si mesmo… Numa constante dúvida sobre o que é certo e o que é excesso de zelo!
Lindo texto!
Muito obrigada André! Feliz de ver sua presença também por aqui. Vc é sempre bem vindo!!!