Para quem ainda tem a velha visão de céu e inferno, como um lugar cheio de anjinhos passeando pelas nuvens ou vários diabinhos espetando pessoas em caldeirões, é porque ainda não pensou no óbvio e sobre o que pode vir a ser, verdadeiramente, uma coisa e outra.
Tem gente que costuma dizer que o inferno é aqui, exatamente onde estamos.
Será mesmo?
Aparentemente, parece que estamos no caos. Nascemos, aleatoriamente, numa família rica ou pobre, cheia de amor ou desamor, num país desenvolvido e seguro ou numa civilização ainda primitiva e sem recursos. Crescemos misturados à uma diversidade de coisas como: cultura, religião, raça, política, crenças, costumes, grupos musicais, opiniões e tanto mais. E dentro de cada diversidade, na maioria das vezes, um nível de intolerância por parte de sua maioria.
Viver bem tem lá suas divergentes percepções sobre seus necessários requisitos: alguns acreditam que o dinheiro faz toda a diferença, outros pensam que o amor faz este papel, enquanto que alguns acham que uma mistura de ambos é a medida certa, e assim por diante.
Fato é que o que parece mesmo fazer diferença é sobre como se reage a tudo na vida.
Tem gente, que mesmo sem muito dinheiro e recursos, consegue ser feliz e ainda ser capaz de consolar os que possuem mais poder aquisitivo com suas supérfluas reclamações. Há quem não tenha saúde e seja mais feliz do que o mais saudável dos seres. Tem gente que não se satisfaz com nada. E tem gente que se satisfaz com menos ainda.
Muitos dizem, que a felicidade está dentro de cada um de nós. E quanto mais eu vivo, mais eu acredito nisto.
Desde pequena, sempre achei que dinheiro não era a principal razão da felicidade que buscava. Também pensava que o lugar não era mais responsável pela paz ou alegria que sentia, do que as pessoas à minha volta. E viver foi me mostrando, cada vez mais, que meu raciocínio estava no caminho certo.
Mais importante do que o dinheiro que se tem, o lugar em que se está, e a condição em que me encontro, é a maneira que eu penso sobre o momento que estou vivenciando.
Funciona mais ou menos assim. Se estou sem dinheiro, posso escolher tomar uma atitude calma e tranquila e pensar sobre como melhorar esta situação. E antes de tudo, aceitar o momento de escassez. Mantendo a calma e deixando o desespero e vitimização de lado, certamente encontrarei alguma nova possibilidade de recursos. Por outro lado, se me desespero, choro e reclamo, mais minha escassez e os problemas decorrentes disto se evidenciam e consequentemente pioram.
Se me interesso por alguém e “forço a barra” em função de uma carência ou insegurança exacerbada, acabo por afastar a pessoa de minha presença. Quando a atitude contrária, daria mais oportunidade e tempo para que esta pessoa me conhecesse e se achegasse naturalmente. E se sou capaz de aceitar uma rejeição com naturalidade, abro espaço para o fluxo da vida, que fará com que pessoas mais apropriadas a minha pessoa, entrem em meu caminho.
Tudo o que se pensa e o que se sente gera uma ação, que muda todo o decorrer do que virá a seguir. E isto acontecesse o tempo todo. Tudo começa por um pensamento tranquilo, seguido de sensação de calma. E assim, vive-se o céu, ainda que no inferno. A paz numa situação de desespero e dor.
Há de se amadurecer muito, até que se chegue na prática a esta conclusão. Céu e inferno estão dentro de nós: ambos. Um dia pode virar céu, bem como pode se tornar um inferno, de um segundo para o outro. Ainda que fatores externos influenciem para uma coisa ou outra, a forma como recebemos uma ação, gera a reação que define onde ficamos em seguida.
Tem gente que pode começar o dia numa mansão, recebendo um buque de flores com o melhor e mais caro dos cafés-da-manhã, mas se por dentro, se dá foco à insegurança, ao medo de traição e mesquinhez, a mansão vira uma casa qualquer, o buque de flores se torna dúvida e o café-da-manhã nada mais do que parte de uma mera decoração.
O nosso céu de cada dia começa por dentro. E se perpetua a cada pensamento e ação.
E o inferno também.
Tudo é uma questão de escolha, feita a cada segundo, que define o segundo seguinte.
No fim do dia, define-se como foi o dia.
E no decorrer do tempo, toda uma vida!