Há alguns anos tive contato com duas diferentes terapeutas, que haviam passado a vida trabalhando com casais. De diferentes nacionalidades, ambas tinham muitas experiências e opiniões em comum. Uma delas me chamou tanto a atenção através de seus relatos em livro, que eu jamais me esqueci.
Por mais de duas décadas, uma das terapeutas perguntou a todos os seus pacientes, homens e mulheres, o que mais lhes chamava a atenção em seus parceiros ou parceiras. Para sua surpresa, no início, e para a minha, quando li o livro, a profissional descobriu que todas as respostas sempre iam de encontro com algo individual da pessoa e nunca, em momento algum, de encontro com algo que o parceiro ou parceira fizesse para o outro.
É comum que quando estejamos apaixonados, façamos de tudo para agradar o nosso parceiro ou parceira. Mesmo de forma inconsciente, esperamos ser reconhecidos por isso: pelo que fazemos pelo outro. Quando muitas vezes perdemos a medida com esta atitude. No fazer, e ainda pior, na expectativa de reconhecimento por aquilo que não se cobra: atenção, amor e carinho.
A terapeuta chegou à conclusão depois das suas duas décadas de terapia com casais, que a maior admiração que uma pessoa pode ter pela outra está sempre relacionada a algo sobre ela mesma. Por exemplo: dentre tantas pessoas questionadas, as respostas foram do tipo: “O que mais gostei de ver meu marido fazendo foi um discurso em seu trabalho, durante o qual ele nem sabia que eu estava lá”, “Um dia vi minha esposa argumentando durante um jantar sobre um assunto político e vi nela todas as qualidades que me fizeram me apaixonar por ela”, ou ainda “Gosto de ver meu marido surfando”.
Os exemplos acima, à primeira vista, podem parecer simples e bobos, mas não são. Eles são muito claros em mostrar o fato de que quando nos sentimos atraídos por alguém, estamos nos sentindo atraídos pela individualidade desta pessoa. O que move esta pessoa? O que a faz brilhar? Onde está a sua paixão pela vida? Ali reside o que chamará a atenção do outro.
Dentre tantas características que possuímos, entre qualidades e defeitos, são nas nossas paixões que demonstramos o que temos de melhor. Se sou apaixonada por escrever, é através da escrita que demonstro a minha sensibilidade, as minhas dores, as minhas mais profundas emoções.
Não interessa o que se faz e o que se gosta, mas é nisto que se encontrará o melhor que cada um tem. Um homem apaixonado por motocicletas poderá expressar tanto conhecimento e prazer ao falar do assunto, que poderá chamar a atenção por isso, pois assim demonstra a paixão e vida que possui dentro de si mesmo. Assim como um médico fala de seus pacientes ou um advogado cita seus processos. Bem como um professor menciona seus alunos e material escolar.
Quando entramos num relacionamento, muitas vezes nos perdemos na medida e por um determinado momento esquecemos de nós mesmos. Com a maturidade deixamos de perder a linha, mas até que isto aconteça, vale o conhecimento adquirido pela terapeuta.
Chamamos a atenção do outro quando na verdade olhamos para dentro de nós mesmos, dando espaço e vazão para aquilo que somos em essência, com as paixões que carregamos durante nossas vidas.
Como já diz a conhecida historinha: quer chamar a atenção de alguém? Cuide do seu jardim e as borboletas virão. Não é preciso mais do que isso. Olhar para si mesmo e ser quem se é de verdade. É o que basta.
Mais do que isto é perda de medida.