– Carolina, pare de ser romântica!.
Foi com esta frase que meu professor-orientador me desconcertou em sua primeira orientação ao meu Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC. Que meu professor me conhecia muito bem, não era novidade. Além de ter observado minha evolução na Pós-Graduação, também acompanhou de perto o meu trabalho como escritora. E apesar de sua frase estar diretamente relacionada à forma como eu havia escrito o meu Projeto de Artigo, eu senti de imediato que ela continha uma profunda verdade.
Enquanto meu professor continuava dando um show de didática perfeita e eu tentava prestar atenção à sua explicação, sua frase ainda ecoava em minha cabeça: “Carolina, pare de ser romântica”. E o simples fato de ela ter me tirado a concentração, já era prova do quanto ela era verdadeira.
Eu devia ter mantido o foco em toda a explicação que meu professor continuava proferindo. Mas por culpa de sua percepção e sensibilidade aguçada, minha mente só queria refletir a frase. Talvez meu orientador só tenha tido mesmo a intenção de me chamar à atenção para a forma escrita de meu trabalho. Mas eu senti a “chamada” como a minha alma escancarada, nua e crua, a quem a quisesse observar. Mas será possível eu ser tão transparente assim?
Para bom entendedor, não apenas meia palavra basta, mas um tantinho de atitudes. Ele observa, escuta e pronto: consegue definir o ser observado com a sensibilidade de uma mãe. Eu acho que este era o caso. Um pouco que meu professor havia lido, mais um tanto percebido e pronto. Ele parecia já me conhecer do avesso.
De cara não entendi porque aquela frase não parava de ecoar em minha cabeça. Será que me incomodava o fato de ser mesmo uma pessoa romântica? Ou será o fato de ter me sentido exposta na frente de meu professor? Por que aquela frase não saia de meus pensamentos?
Primeiro pensei no fato de ser uma pessoa romântica. Embora avessa aos contos de fadas e toda a ilusão sobre as histórias de amor que ainda povoam o universo feminino, concluí que ainda tenho um olhar romântico sobre a vida. Adoro pessoas: conhecê-las, descobri-las e conquistá-las, uma a uma, pouco a pouco. Gosto do sorrir, do pegar o vento com a mão e do sonhar acordada com as bobagens que me fazem feliz. Não restaram dúvidas: Carolina é mesmo um ser romântico.
Depois questionei o fato de ser tão transparente. Se já era escritora e expunha o meu ser, a minha vida, ideias, mágoas, revoltas, sonhos e tudo mais, a quem quisesse ver, e já a um bom tempo, este também não poderia ser um incômodo. Eu até já havia publicado o livro “Carolina nua”… Não, não era isso.
E então, de repente, eu entendi.
A verdade é que eu gostei de ser descoberta. Gostei de ter sido pega “nua” em todo o meu ser, escancarada, mesmo em um erro de forma de escrita, num trabalho de Pós-graduação. Pela primeira vez, em tão pouco tempo, parecia que alguém tinha a capacidade de me enxergar abaixo de todas as cascas de meu ser, naquele instante desnudado e desprotegido. E apesar de ter me deliciado com tamanha exposição, percebi que não estava habituada a tal situação.
Sonhado momento de um ser mais do que romântico: se sentir nua, por completo e de vários ângulos, nem que seja só por um único instante!