Nas voltas que a vida dá, com suas infindáveis surpresas, por vezes, ela nos faz conviver com alguém, que se parece profundamente com algo que já fomos um dia. E dependendo da maturidade atingida, não é possível mais se conectar com o que se foi. E mesmo que haja sincero entendimento sobre uma pessoa parecida com o que fomos no passado, o que se é nesse instante, contradiz esta compreensão.
Como um “Acredite se puder” da Lei da “Ação e reação” ou “do Retorno”, podemos nos pegar nesse tipo de situação. Amadurece-se e cresce, para depois se conviver com pessoas que outrora fomos, como que para “pagar os pecados” que cometemos um dia.
Será mesmo? Até que ponto seria um castigo, ter a oportunidade de conviver com a gente mesmo, de alguns anos ou décadas atrás? Não seria uma oportunidade incrível, de diversos insights, autoconhecimento e acima de tudo de compaixão e retribuição? Conviver com alguém que não está no nosso nível de evolução requer paciência, tolerância, aceitação e não julgamento. Eu compreendo e aceito que o outro ainda não alcança o nível de minhas reflexões e ponto final.
Com toda a impulsividade, intensidade, falta de temperança das Carolinas de outrora, a ansiedade e as reações sem pensar, além de uma dura braveza, aquela que sou hoje consegue compreender perfeitamente a dor e a sensação de solidão de ser incompreendido pela maioria. Se antes eu mal pensava para agir e reagir, hoje tenho a calma de deixar uma decisão ou reflexão para o dia seguinte. E então, a vida me impõe o convívio com alguém que não consegue deixar nada para um minuto depois, preferindo a impulsividade à sensatez. E nem sequer se dá conta da falta de bom senso e tranquilidade que não possui.
Ao mesmo tempo em que sinto a compaixão de ver em alguém tudo o que um dia fui, me pego do outro lado da moeda, sem muito saber o que fazer. Assisto suas ações e reações e me vejo um tanto impotente, ao tentar mostrar a esta pessoa o quanto se pode ser mais simples e leve.
Quantas vezes na vida nos deparamos com esta experiência? E vale a pena? O que se faz? Se foge? Nos carregamos de um sentimento de superioridade e vamos embora? Creio que não. Da mesma forma que podemos aprender com uma criança, também podemos vivenciar aprendizados com aqueles que agem com a mesma falta de bom senso que um dia tivemos.
Tive a oportunidade de ter alguns “tutores” no decorrer da minha vida. Aqueles, que de tão sábios, compreensivos e pacientes, me serviram como um guia, a cada necessidade de conselho ou direcionamento. Possuo o desejo de retribuir para quem quer que seja as mesmas oportunidades que me deram.
Olhar nos olhos de alguém que se parece tanto comigo de anos atrás é quase como me olhar no espelho, ter a oportunidade de acariciar a própria alma e ensiná-la a andar por caminhos melhores, sem o peso e a dor, que outrora, eu mesma criei através da intensa impulsividade, imediatismo sem limites e do buraco no peito, das curas que ainda não existiam.
Quando o passado bate à porta, através de alguém que um dia já fomos, creio ser um conjunto de lições que a vida nos proporciona. O perceber o nível em que se está, o nível em que se esteve e o nível que se pode chegar, olhando o passado no presente com uma compaixão ainda a ser aprendida.
Aceita-se o passado com amor, para que um futuro de evolução ainda maior possa chegar.