Depois de seis anos morando na Alemanha, proclamava constantemente que detestava o frio. Trauma pelos meses intermináveis de inverno no país, que chegaram pra mim até aos vinte e poucos graus negativos.
Minha nova cidade no Brasil foi nada mais, nada menos, que a capital mais elogiada do Brasil. Curitiba, que imediatamente me surpreendeu devido à quantidade de chuvas, seja em dias de verão ou em dias de inverno. Achei que não merecia tal fardo, após já os anos de inverno europeu.
Hoje, após mais de dois anos na capital, percebi que minhas piadinhas no Facebook a respeito da falta de sol na cidade eram quase que constantes. Mais irritante do que isso, foi ter percebido a minha alegria ao chover, depois de alguns raros dias seguidos de sol.
Que em qualquer lugar do mundo as pessoas usam o clima para puxar assunto ou quebrar o gelo, todo mundo já sabe e está acostumado, mas nem era este o meu caso. Percebi que minha relação com o clima estava realmente confusa. Ou então minhas funções biológicas estavam agindo divergentemente daquilo que era de costume.
Me senti obrigada a rever meus conceitos sobre o tempo. Eu estava chata. Será que meu corpo tinha mudado suas reações à temperatura? Não sei dizer ao certo.
Sei, por experiência própria, que nosso corpo não se adapta rapidamente a um novo clima. Até tal adaptação, haja dores de cabeça, cólicas, noites mal dormidas e por aí afora. E como não estava sentindo nada de diferente acontecendo com meu físico, achei que o fator era psicológico. Será…?
Em Curitiba o tempo é quase sempre mais frio que o resto do país, e muitas vezes nublado e chuvoso. Quando ainda era recém-chegada na cidade, não entendia as reclamações dos cidadãos sobre qualquer aumento na temperatura. Enquanto eu festejava o sol, parecia que todo o resto já torcia pela chegada de uma chuva. Eu queria matar o indivíduo em questão.
O problema é que hoje, nem sei como, me vejo perfeitamente encaixada nos padrões curitibanos. Abre um solzinho mais ardido e eu já olho para o céu em busca de nuvens mais escuras. Se antes eu sonhava em morar no Rio de Janeiro, hoje já me questiono se aguentaria os quase constantes mais de quarenta graus da cidade maravilhosa.
Se para se tornar curitibana nata, for necessário o mesmo gosto para o clima, posso dizer que já me tornei cidadã de carteirinha. Nunca vi um povo tão contente com seu próprio clima. Eita povo feliz com o que tem! Mais curitibano do que isso, só com a seguinte frase: “Tesão piá! Vai chover!”.
Bora comprar um guarda-chuva! A guria agora aqui é curitibana!