Quando eu era criança, ouvia dizer que quanto mais eu crescesse, mais a noção da brevidade do tempo se intensificaria. Era algo mais ou menos assim: quando criança viveríamos a fase do tempo longo, quando a sensação de viver seria lenta. Na adolescência isso se tornaria o dobro. E enfim na vida adulta, a percepção de tempo se dobraria a cada dez anos, e depois a cada cinco.
A sensação deste momento é que o ano acaba de ter começado, porém já estamos na metade dele. A compreensão de que o tempo passa cada vez mais rapidamente e de que não temos absolutamente nenhum poder sobre ele, não me parece que aumenta somente a cada dez anos, mas a cada dia.
Tem semana que parece ter durado um mês. E dia que durou dois, ou três. O aprendizado se tornou intenso. As mudanças internas são absolutamente constantes e nada se estagna.
Me pergunto se com todos é assim. É mesmo uma questão de idade? Ou ritmo de vida? Será que a dona-de-casa também sente o tempo escorrer por entre os seus dedos? E o que fazer para não deixar que a própria vida também nos escape como água?
Olhar para o passado, seja contando um dia, meses ou anos, não é fácil. Ver os amigos que ficaram para trás, as boas fases de toda uma vida, os lugares, as boas lembranças e os raros sentimentos de plenitude. Além da velha culpa de um erro e vários outros. Quanto tempo não se leva para corrigir os mesmos? Cruel é perceber que a correção dos desacertos não acontece tão depressa quanto a passagem do tempo.
Será que meus amigos de infância sentem o mesmo? Meus pais? Meu filho? Por que, por vezes, ainda me vejo adolescente enquanto durmo? Para o meu inconsciente o tempo não correu na mesma velocidade que para o meu consciente?
Dizem que a velocidade da alma não é igual a de nosso corpo e de nossa vida. Para ela, a vida acontece devagar, em movimentos leves. Em meio ao caos do dia-a-dia corrido, as coisas realmente importantes demoram, levam anos. Anos para se compreender, anos para se pedir perdão, anos para amar de verdade, tanto a si mesmo, quando a todos os demais. Anos para entender que não somos melhores do que ninguém, apenas estamos em diferentes estágios.
Vivemos sim, dois tempos ao mesmo tempo. Um deles é louco o bastante para fazer com que a gente se perca. O tempo que se conta no relógio: o medo de perder a hora no dia seguinte, o pular da cama para um banho rápido e um café da manhã no caminho do trabalho. O tempo de fazer mil coisas ao mesmo tempo, já com receio do cansaço do dia seguinte, quando toda esta rotina se repetirá, sem cessar. O outro tempo, é o que se sobressai a tudo isso, aquele que nos faz parar a mente, quando olhamos para o que realmente importa: até quando meus pais vão estar aqui? Meus amigos? Meus filhos? Até quando terei saúde? E até quando eu estarei aqui? E então essas reflexões nos tiram por um momento do outro tempo.
Entre uma coisa e outra, fato é que a vida passa. Não temos controle sobre nada, senão sobre nós mesmos, mas ainda assim, depois de certa dose de maturidade e consciência. Demora…, enquanto a vida passa e os desacertos se tornam incontáveis, a maturidade e sentido da vida, chegam a conta gotas, porém firmes e enraizados.
Viver é isso aí: se descobrir um novo ser a cada dia, se reinventar, ser a tal metamorfose ambulante em meio a um mundo que não para de mudar. Se readaptar. Ver e rever as próprias opiniões, criando novas percepções.
Se olha para trás, por vezes, com pesar, mas sempre se dando um passo à frente.
Numa vida que se conta ao mesmo tempo por milhões de segundos e por tantos anos, no fim, somos apenas um sopro, que se desmancha no ar.
Vale aproveitar a brisa!